Francisco Perna Filho
II
A cidade orgânica,
episódica,
gradativamente vai inchando-se,
enchendo-se,
sinalizando o seu cansaço,
as suas fendas;
a lenta morte nos manicômios,
a morte lenta
serena morte.
A cidade circundada,
insulada,
Apodrecida,
insanamente esquecida.
Acidada,
circuncidada,
desassistida.
Acidez urbana,
de tão linguaruda não me comove mais.
A cidade chora
nas primeira chuvas,
e em canto esparso ela é diluída,
no semblante velho do jovem que empurra
as ilusões perdidas
no carrinho de lixo.
Alheiamente,
(alheamento)
o jovem tomba
na tinta da recomposição,
a tinta atina
numa crescente vontade
de refazer-se,
de ser cidade.
A cidade também se esconde,
é grito distante.
Somente ela sabe de si:
seus becos,
seus muros,
suas penumbras
urdiduras de abandono.
Suas ruas são tímidas,
são tiras,
exercícios de solidão,
estirões de memória.
A cidade silenciosa,
Perturbada,
Entristecida,
Amarelece em rugas
Em rusgas
e, contaminada, explode em céu,
em césio,
em corrupção.
A cidade é lenta,
íngreme,
pesada.
p-a-u-s-a-d-a-m-e-n-t-e tomba.
p-a-u-s-a-d-a-m-e-n-t-e tomba:
Bagdá,
Jerusalém,
Canudos.
A cidade desértica,
Chorada,
Maldita,
tangida em sangue
tomba/retumba
tomba...
A cidade intelectualizada,
politizada,
conspirando para o progresso,
regresso da polis,
nos caminhos da metrópole.
arremessada aos ventos,
tensos ventos de agosto,
conduzindo homens,
velhos marujos,
sujos soldados
(corrompidos pelo olhar das putas no cais)
para além dos oceanos:
Roma,
Belfast,
Tóquio,
Lisboa,
Marrakech,
Berlim.
Todas elas
na parede,
na memória,
na desordem da sala-de-estar
Foto: Goiânia vista de cima - by Francisco Perna Filho.
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