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Manoel de Barros
Manoel de Barros


"É nos loucos que grassam luarais"
Manoel de Barros e a Poética do Ínfimo




Por Ellen Margareth Dias Ribeiro Araújo*

O livro Poemas concebidos sem pecado, escrito ainda na juventude de Manoel de Barros (1937), segue o rastro do Modernismo de 1922, em aspectos formais, linguísticos e temáticos. Porém, a ética poética de Manoel Barros, que começava a ser definida nessa primeira obra, destoa, em alguma medida, do tom combativo e rebelde dos modernistas de 22. Sua poética singular, acolhe os destroços, o ínfimo, as coisas do chão “mijadas de orvalho”, e os pobres diabos que viviam ou perambulavam pelo Pantanal e que povoaram sua infância. Manoel recolhe os restos, “o que pode ser disputado no cuspe à distância” e os transformam em matéria para sua poesia.



Em entrevista ao jornalista Tagore Biran, do Jornal do Brasil Central, MS, em novembro de 1993, o poeta fala sobre Poemas concebidos sem pecado:

“[...] é meu breviário. Rezo por ele ainda hoje. Fala de minha infância que é minha fonte de poesia. Noto que os pobres-diabos e as pobres coisas do chão comandam o livro. A prevalência da linguagem sobre o episódio já está lá. Certa tendência de achar a mosca mais importante do que uma joia pendente também está no livro. Eu acho ainda hoje o cu de uma formiga mais importante do que uma usina nuclear [...]. (BARROS, 2016, p.89)


Manoel de Barros reconhece essa obra como referência para sua poética que, com o passar dos anos, trilhará seus próprios caminhos, usufruindo de todos os “desregramentos” proporcionados pela modernidade. Dessa poética nada convencional, destacamos a linguagem e as imagens inusitadas, ao poetizar o mundo visto pelo rés do chão. Quanto a esse aspecto, Ítalo Moriconi (2016, p. 7-8), esclarece que o olhar do poeta perscruta o micrológico, o marginal, o residual, o pequeno, o mais pobre, o despercebido. E esse olhar que recorta e salva aspectos do real transforma-os em uma hiper-realidade na linguagem.  Essa particularidade é discutida pelo poeta cuiabano em “Entrada”, texto que abre a coletânea Poesia completa Manoel de Barros:

ENTRADA
Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com os sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz. Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem. Perdoem-me os leitores desta entrada mas vou copiar de mim alguns desenhos verbais que fiz para este livro. Acho-os como os impossíveis verossímeis de nosso mestre Aristóteles. Dou quatro exemplos: 1) É nos loucos que grassam luarais; 2) Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades. (BARROS, 2010, p. 07)
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Desenho de Manoel de Barros



A linguagem dissonante, às avessas, é uma das marcas mais significativas da obra de Manoel de Barros: “Eu sempre desejei o despropósito das palavras” (BARROS, 2010, p. 06). É o mundo recriado pelo olhar de criança, é a “linguagem- invenção que subverte os limites do dizer, produzindo figurações inusitadas, de originalidade sempre surpreendente. Singularidade sem concessões” (MORICONI, 2016, p. 07).
Outro aspecto marcante da poesia barreana é a exploração das falas da gente do mato, dos “bugres”, como também se autodenominava Manoel de Barros. Essa variedade linguística consolida o projeto poético do escritor e, ao mesmo tempo, ratifica a dessacralização da linguagem poética tão defendida pelos primeiros modernistas: “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos”. (FONSECA apud ANDRADE, 2008, p. 60):

A DRAGA
  [..] Quando Mário morreu, um literato oficial, em necrológico caprichado, chamou-o de Mário-Captura-Sapo! Ai que dor!
   Ao literato cujo fazia-lhe nojo a forma coloquial.
         Queria captura em vez de pega para não macular (sic) a língua nacional lá dele.... [...]
          Da velha draga
          Abrigo de vagabundos e de bêbados, restaram as expressões: estar na draga, viver na draga por estar sem dinheiro, viver na miséria
          Que ora ofereço ao filólogo Aurélio Buarque de Holanda
           Para que as registre em seus léxicos
           Pois que o povo já as registrou. (BARROS, 2016, p. 31-32)
POLINA
   [...] ___ Você tem saudade do sítio, Polina?
          Que tinha.
           ___ O que você fazia lá?
          Que rastejava tatu.
          Voltava correndo avisar o padrasto: lá na brenha tem uma!
          Tornava para casa sem rasto apanhava no sesso.
          Era sesso mesmo que empregava. (BARROS, 2016, p. 41)

Manoel de Barros recupera a língua neológica e pura dos “bugres” em tom jocoso de ironia e crítica. Os trechos de “A draga” e “Polina” apresentam à academia, ao “lado doutor” da poesia a fala do povo pantaneiro, a “vivência intensa das palavras em estado de pré-dicionário” (MORICONI, 2016, p. 08). No poema, o sujeito pede ao filólogo que as dicionarize, uma vez que Manoel entende a “língua errada do povo, a língua certa do povo” como fator de inclusão social do outro. Embora trabalhe com o material linguístico do Pantanal mato-grossense, Manoel de Barros não se considera um poeta regionalista: “Nós sabemos que poesia mexe com palavras e não com paisagens. Por isso não sou poeta pantaneiro, nem ecológico. Meu trabalho é verbal [...]” (BARROS, 2010, p. 06). Considerava-se um fazedor de frases cujo brinquedo eram as palavras em seu estado mais puro e corriqueiro, através das quais pudesse revelar o mundo como ele o percebia.


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desenho de Manoel de Barros
A aproximação entre os ritmos da poesia e da prosa é outra marca da modernidade em sua obra: destruir as fronteiras entre os gêneros lírico e narrativo. A fusão poesia e prosa é percebida pela estrutura de poemas dispostos em blocos de versos livres e fragmentados, entrecortados por inúmeras vozes que permeiam toda a sua arquitetura, como é possível perceber nos poemas transcritos acima. O elemento de destaque nesses textos, sejam eles poemas ou prosa poética, não é o sujeito lírico, mas a voz do outro em enunciação. É a partir dessa voz que o poema é construído, visto que constitui a matéria-prima da poesia de Manoel de Barros. Em certa medida, o sujeito lírico assume o papel de mediador e /ou observador das ações e falas dos personagens, para depois assumir uma posição, às vezes crítica e irônica, sobre aspectos dissonantes em jogo.
 Rimbaud, em 1871, anunciou a fragmentação do eu lírico dizendo: “o eu é um outro” (2006). Manoel de Barros afirma em seu poema “Retrato do artista quando coisa” (2010, p.355): “Perdoai. Mas eu preciso ser Outros”. Eis o “desregramento” em foco neste estudo e que orientará a nossa discussão sobre a poesia de Manoel de Barros – a despersonalização do sujeito lírico na criação ou recriação desse “Outro” através de máscaras que incorporam o ficcional ao autobiográfico.

Os eus-porcarias de Manoel de Barros

É interessante lembrar que Manoel de Barros garante que tudo o que não inventa é falso. A partir dessa afirmação, podemos levantar a hipótese de que, em sua poética, o imaginado é verdadeiro. Assim, o poeta assume a intrínseca ligação entre o experimentado e o imaginado, o que lhe proporciona liberdade de recriar poeticamente a experiência vivida ao lado dos “Outros” que, ele mesmo, denomina de alter-egos, porque através desses outros eus – os ofendidos, desprezados e puros de espírito – Manoel de Barros consegue mostrar realidades diferentes que se misturam com a sua para completá-lo naquilo que lhe falta.
O principal alter-ego, duplo (não sei se podemos chamá-lo assim) ou ainda desdobramento do eu empírico de Manoel de Barros é Bernardo da Mata, homem do mato que trabalhou na fazenda do pai do escritor durante anos. Em trecho de entrevista dada a Martha Barros (sem data), disponibilizada pelo Itaú Cultural, em 2016, Manoel fala sobre a recriação poética de Bernardo:

Resposta: Bernardo, você sabe, é o Outro meu principal. Quando o Bernardo fala, por exemplo, que uma ave sonha de ser ele, ele está olhando o mundo com um olhar de pássaro. Se a gente pudesse ver o mundo com um olhar de pássaro, não precisava do Outro para ter voz de poesia. É bom que uma voz poética seja de um ser ainda meio ave, meio árvore, meio vento e meio gente. E Bernardo é isso. (...) Inventar um outro que esteja descobrindo o mundo, que esteja vendo as coisas pela primeira vez, tudo sem rótulos e sem nome – isso é muito salutar para a poesia. Alguém que alguma vez me tenha dito que viu um lagarto na beira do rio a beber um pouco de sol. Se encontro alguém que me diga isso, tenho que adotá-lo para Outro. Os Outros sempre são melhores do que nós. Eles podem apalpar o som. Eles podem pegar nos perfumes do sol. São criaturas ainda pertencidas de natureza, como são as águas, o vento, as pedras. Eu adoto tais Outros porque eles me ajudam na tarefa de entrar em estado de poesia. (BARROS, 2016)

A lírica de Manoel de Barros, leitor de Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, T. S. Eliot, entre outros poetas da modernidade, vai além de um simples projeto de despersonalização ou apagamento do sujeito empírico. A despersonalização nessa poesia é um estar fora de si para o acolhimento do “Outro”, poesia viva e pulsante. Esse movimento de autoabandono acentua o caráter universalizante e social de sua lírica singular que resgata através dos “Outros” a cultura, a história e a língua do povo do Pantanal mato-grossense. Em Palestra sobre lírica e sociedade (2003, p. 69), Theodor W. Adorno defende que a lírica é uma forma de protesto contra uma situação social que todo indivíduo experimenta como hostil, alienada, fria e opressiva. Ela também tem a atribuição de indicar caminhos e anunciar mudanças. A poesia de Manoel de Barros enquadra-se nesse perfil, pois seu olhar voltado para as pré-coisas e para o “Outro” em unidade com a natureza configura-se como resistência à coisificação do mundo e à dominação das “utilidades” sobre os homens. Daí, a preferência pelo ínfimo, pelo inútil e pela borra. Eis a estética do resto:

Resposta: as coisas que não prestam mais para nada e estão jogadas fora por inúteis são para mim objetos de estima. Sei que isso é um desagero sem grau de estima para os outros. Sei que a maioria prefere coisas úteis e as pessoas bem postas na sociedade. Mas eu não sou tantã, juro. O meu gosto é apenas estético. O caso é que as coisas úteis são muito queridas e as outras são desprezadas. E eu tenho uma tendência de gostar das palavras desprezadas. As virgens e as quase intocadas. Pelo andar se pode perceber que coisas úteis ou desprezadas são palavras. Palavras muito usadas e palavras quase virgens. Todas as coisas para mim são palavras, assim como todos os atos, sentimentos, etc. Assim, a palavra porcaria, por exemplo, é de minha estima. Para mim, ela não é a porcaria mesmo, lavagem de porco ou diarreia. Porcaria é uma palavra que pode ser alargada para gente. Ela pode ser humanizada. Ela pode nomear um bêbado deitado na sarjeta. Aí, nesse contexto humano, a palavra é nobre. Porque eu acho mais nobre ser um porcaria do que um ilustríssimo. Porque um ser porcaria é um ser excluído do amor. Por isso ele é mais nobre. Charles Chaplin fez que um ser porcaria se encaminhasse para herói. Os heróis de nosso tempo não são os ilustríssimos nem os príncipes nem os poderosos. Nossos heróis são vagabundos, porcarias, bêbados e mais pessoas jogadas fora pela sociedade. Os desimportantes. É por esse caminho que dou grande importância aos desimportantes [...]. (BARROS, 2016)
Desenho de Manoel de Barros
Ao recolher os despojos da sociedade capitalista e individualista, a poesia de Manoel de Barros distancia-se da subjetividade lírica de representação de experiências e emoções de um sujeito indiviso. O sujeito lírico de Manoel de Barros desdobra-se em vários “eus-porcarias”, reaproveitados poeticamente e eleitos à categoria de heróis de sua poesia. O poema “A borra” explica essa escolha poética:

A BORRA

Prefiro as palavras obscuras que moram nos
Fundos de uma cozinha – tipo borra, latas, cisco
Do que as palavras que moram nos sodalícios – tipo
Excelência, conspícuo, majestade.
Também os meus alter-egos são todos borra, ciscos, pobres-diabos
Que poderiam morar nos fundos de uma cozinha – tipo
Bola Sete, Mário Pega Sapo, Maria Pelego Preto etc.
Todos bêbados ou bocós.
E todos condizentes com andrajos.
Um dia alguém me sugeriu que adotasse um almirante, um senador.
Eu perguntei:
Mas quem ficará com os meus abismos se os
Pobres-diabos não ficarem? (BARROS, 2010, p. 394)

O primeiro livro publicado, Poemas concebidos sem pecado (1937), já apresenta uma galeria de tipos humanos recolhidos pelo poeta, as borras:  Negra Margarida, Mário-pega-sapo, Zezinho-margens-plácidas, Maria-pelego-preto, Maria-Gaiteira, Mariquinha-besouro, Polina, Cláudio, Sabastião, Antoninha-me-leva. Frutos da imaginação criativa do escritor ou não, todos eles fazem parte das memórias de infância de Manoel de Barros.
Da galeria de personas ou duplos criados por ele, o mais famoso, Bernardo da Mata, o “Outro principal”, ganha destaque em 1989, quando é lançado o livro O guardador de águas. Bernardo é uma representação do andarilho, homem desprendido do mundo material e próximo da natureza. “A liberdade com que Bernardo manipula os elementos da natureza alude ao trabalho poético, já que de seu esforço a matéria-prima adquire nova forma. Por semelhanças desse tipo ele é visto como uma segunda personalidade do poeta” (ITAÚ CULTURAL, 2019). Espécie de heterônimos (o que lembra Pessoa), essas personas mantêm afinidades com seu criador, pois “todos estão bastante próximos espiritualmente e estilisticamente de Manoel de Barros” (GISMONTI, 2010, p.25). Logo, o conflito entre identidade empírica e identidade lírica – dissonância da lírica moderna – não ocorre na poética de Manoel, porque os “Outros” são constituídos na incompletude do sujeito empírico, preenchendo seus abismos, como ele mesmo diz. Esses eus são pessoas reais, com características próprias preservadas, a quem o poeta empresta a voz poética, embora, em alguns casos, ocorra a fusão dessas vozes – a do sujeito lírico e a do sujeito empírico. Manoel de Barros explica sua relação com os alter-egos:

Deixo a meus alter-egos a tarefa de realizar os sonhos meus frustrados. Coisas que não fui capaz de fazer realizo através deles. Por exemplo: eu quis muito ser andarilho no Pantanal. Mas nunca agi no sentido de ser um andarilho. Então inventei alguns que fizeram isso por mim [..]. (BARROS, 2010, p. 25)



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Desenho de Manoel de Barros


O andarilho Bernardo agrega dois elementos, a princípio, antagônicos: o autobiográfico e o ficcional, mas que não se excluem. Bernardo faz parte da história de vida de Manoel de Barros, com quem conviveu enquanto trabalhava na casa do pai do escritor. Ao mesmo tempo, é dado a Bernardo o estatuto de criação ficcional, ao ser transformado em o andarilho Bernardo da Mata, homem rústico, que se mistura à paisagem pantaneira. A lírica moderna faculta ao poeta a liberdade de “ocupar algum outro corpo” por meio de máscaras ficcionais. “Os poetas, de Valéry a Pound e Pessoa, fizeram uso amplo e variado dessa liberdade. A verdade da poesia se tornou inseparável do que Oscar Wilde chamou de ‘a verdade das máscaras’ (HAMBURGER, 2007 p. 86). Para esses poetas da modernidade, o uso de máscaras afastava-os de “seus acidentes empíricos” os quais procuravam ocultar com as máscaras do fingimento poético. Em contrapartida, Manoel de Barros, também poeta da modernidade, não utiliza o recurso das máscaras para fugir de si mesmo, mas para viver o não vivido. Ele apenas se esconde atrás da máscara de Bernardo, vivendo, através do “Outro”, seus sonhos irrealizados. O poeta está o tempo todo ali, à espreita, conduzindo a atuação de seu personagem em constante performance, a vagabundear sem nome e sem relógio pelo Pantanal.
Michael Hamburger, em “As máscaras” (2007, p. 115) conclui sua exposição dizendo que dificilmente há um poeta moderno digno de ser lido que não solicite ao leitor que entenda e leve em consideração “a verdade das máscaras”. A verdade das máscaras na poesia de Manoel de Barros foi exposta por ele mesmo no texto transcrito acima, e quando admite que aquilo que não inventa, é falso, escancara a sua verdade recriada: a intenção disfarçada.
A fim de discutir a intenção disfarçada nos múltiplos eus da poesia de Manoel de Barros, usaremos a designação “performances subjetivas”, emprestada do estudo “Que rest-t-il du sujet? Performances subjetivas na poesia brasileira contemporânea” (2014), de Fabíola Padilha. A autora anuncia o retorno do sujeito à poesia na contemporaneidade, porém, na qualidade de resto e, como restância, resíduo presente, “o que assoma é a natureza difusa e descontínua que resta desse eu” (PADILHA, 2014, p. 182). Entendemos que o sujeito empírico em Manoel de Barros configura-se também como resto na relação com os outros eus. Ele é resíduo justamente por ter se esfacelado na composição das personas, embora consiga, por meio de performances subjetivas, inserir-se criticamente na atuação dos sujeitos líricos, o que também inclui uma linguagem performática. Assim, a despersonalização em Manoel de Barros não ocorre pela ausência, mas pelo “sujeito que não se circunscreve em sua totalidade”. Dessa forma, atua como resto tanto quanto seus pobres-diabos o são para a sociedade capitalista moderna.

REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor W. Palestra sobre lírica e sociedade. In: __. Notas de literatura I. Trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2003.
BARROS, Manoel de. Poemas concebidos sem pecado e Face imóvel. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.
______. Poesia completa Manoel de Barros. São Paulo: Leya, 2010.
______. Memórias inventadas Manoel de Barros. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018.
______. Manoel de Barros Entrevistas. In: MULLER, Adalberto (Org.). Rio de Janeiro: Beco do Azougue Editorial, 2010. (Encontros)
FONSECA, Maria Augusta. Por que ler Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 2008. (Coleção Por que ler)
FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991.
GISMONTI, Egberto. Apresentação. In: MULLER, Adalberto (Org.). Manoel de Barros. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2010. (Encontros)
HAMBURGER, Michael. As máscaras. In: ___. A verdade da poesia: tensões na lírica modernista desde Baudelaire. Trad. Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Cosacnaify, 2007, p. 89-115.
MORICONI, Ítalo. Poesia do aquém. In: ___. Poemas concebidos sem pecado e Face imóvel. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016, p. 07-10.
PADILHA, Fabíola. Que rest-t-il du sujet? Performances subjetivas na poesia brasileira contemporânea. In: CURTIS, Alexandre; CARVALHO, Raimundo; SALGUEIRO, Wilberth (Orgs.). Todos os poemas o poema.Vitória: EDUFES, 2014, p. 179-193.
RIMBAUD, Arthur. Carta a Georges Izambard. Trad. Marcelo Jacques. Alea: Estudos Neolatinos, vol.8, n. 1. Rio de Janeiro, jan./jun. 2006.
______. Carta a Paul Demeny. Trad. Marcelo Jacques. Alea: Estudos Neolatinos, vol.8, n. 1. Rio de Janeiro, jan./jun. 2006.
O Guardador de Águas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.  Acesso em: 12/02/2020
Ocupação Manoel de Barros. Itaú Cultural. São Paulo: 2016 Disponível em:  https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/manoel-de-barros/ Acesso em: 12/02/2020
Entrevista com Manoel de Barros. In: Revista Palavra. Disponível em: http://www.sesc.com.br/portal/site/palavra/dossie/entrevista/entrevista+com+manoel+de+barros  Acesso em: 12/02/2020

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*Licenciada em Letras, atuou como professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira vinculada à Secretaria de Educação do Estado de Goiás, no Ensino Fundamental e Médio. No Ensino Superior, atuou como docente nos cursos de Pedagogia e Tecnologia da Informação da Universidade Estadual de Goiás, câmpus Ceres. Mestre em Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás, desenvolveu pesquisa sobre a poesia do escritor modernista Oswald de Andrade. Atualmente cursa Doutorado em Estudos Literários pelo mesmo Programa de Pós-Graduação e pesquisa a subjetividade lírica na modernidade. 

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