A CIDADE - ÚLTIMA PARTE


 Francisco Perna Filho








              



                   III



A cidade enforquilhada,

enrodilhada,

trapaceada,

submetida,

subjugada,

argumenta as suas origens,

os seus papéis,

os seus bordéis,

bordados,

boquifendidos,

inesitantes,

inescusáveis,

sempre prontos,

sempre postos,

via livre,

libertação.

 

A cidade

 religiosamente tensa

atesta as suas crenças,

o demencial momento

do estapafúrdico comércio da fé,

em sinos,

em símbolos,

em siglas,

computa

o vil metal.

  

A cidade morre

nos seus ciúmes,

na represália do amor passante

do que não lhe pertence,

do que não lhe é de direito.

A cidade assiste,

assustada,

o féretro que passa,

o Solitário silêncio de quem vai,

a paz desbotada de quem fica.

A cidade sempre chora,

sempre só.

As primeira chuvas chegam,

vesga e borrada a cidade é só ternura

computando os seus dias de seca,

suas ressacas homéricas,

seu delitos,

Seus dilúvios.

 

A cidade

às vezes solitária

chora, serenamente,

os seus domingos,

compasso de espera,

revés de toda sorte,

como manchete estampada

nos principais diários

de uma Segunda feira

qualquer,

como passatempo para historiadores

e poetas.

  

A cidade líquida,

corrente,

acostumada à sirenes

e infidelidades,

reprisa os seus pontos de ônibus,

seus terminais urbanos,

a alegoria dos seus governantes

                                              em traços de Art déco.


Fonte da imagem: http://img98.imageshack.us/img98/1619/102197664cc72ed566bbux2.jpg

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