Dando prosseguimento à poesia de Manoel de Barros, continuaremos com alguns poemas do Livro das Ignorãças. Boa Leitura!
I
No tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole auroras.
V
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
In. Livro da Ignorãças. Manoel de Barros. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p. 15-17.
Imagem2Paulo Cheida Sans-O Dedo do Poder-Linogravura-30,5 x 25 cm - 1994
Imagem: Formigas do desenho;
Como ele fala tão preciso, sem nenhuma precisão, sobre a poesia e o poeta. Pegar o delirio e por em palavras e encontrar significados para a vida, falar do que não tem palavra.
ResponderExcluirbeijos