Luis Antônio Cajazeiras Ramos
O verso de Luís Antonio não é sentencioso, mas incisivo e lapidar. Percorre, sem hierarquias, um espectro de situações que ora flertam com o sublime, ora namoram o vulgar e o irrisório. Tudo se equivale, ou melhor, no poema, é como se tudo se equivalesse, já que o simulacro ficcional, paralelo à existência, se apresenta mais intenso e real que a própria vida.
Antonio Carlos Secchin
Anátema
Vogo na idéia vaga e vã do eu,
como se houvesse em mim um ser e um cerne,
uma alma inominada, em corpo inerme,
amálgama de fiat lux et breu.
Mimo a mim mesmo com um mimoso engano:
que o mundo existe como um fato meu;
que a vida é a imagem de ilusório véu,
tecido por mim (fio) o mundo (pano).
Fio-me que penso e existo e assim sou algo;
desfio meus véus, em busca de meu âmago,
mas desconfio que apenas seja imago...
Meu sumo é um oco totem hamletiano.
Do imane e ameno cenho, emana a senha:
a senda é ser não sendo e Eu seja sonho.
In. Mais que sempre. Luís Antonio Cajazeira Ramos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007, p.142.
Imagem: Tiziu. Sinésio Dioliveira
Um poema lindo e original falando dessa angustia existencial que nos acomete tantas vezes.
ResponderExcluirBeijos