Luís Antonio Cajazeiras Ramos
Em Luís Antonio Cajazeiras Ramos, a evidente sensibilidade lírica e o extremo domínio retórico, atributos que nem sempre se reúnem no mesmo escritor, revelam-se qualidades indissociáveis. Para além do espontaneísmo informe e confessional, ou da mera habilidade versejadora, sua poesia navega no território próprio: uma implacável máquina do poema, que retrata, com humor, farsa e melancolia, as vias e os desvios de um sujeito lírico em confronto, o mais das vezes, irônico frente ao mundo.
Antonio Carlos Secchin
A égua, que passeia nos desfiladeiros
domina altiva o vale e a montanha,
quando sobe ao cimo do mais alto cume.
Seus relinchos se guardam para as nuvens
das manhãs, tendo o Sol por estribilho,
ao deslizar o trato de seus cascos livres
sobre os talos e a relva do caminho,
à contraluz que brilha no costado largo
de fulva crina, arrepiada cordilheira.
A águia, que paira sob o céu mais límpido,
deusa distante em voo de eterna glória,
mais que domina o céu, reina na terra
com seu olhar farol, coroa e lança.
O temor espalha e o fulgor impregna,
irradiados da envergadura mirífica,
e seu voo plano e silente hipinotiza,
magistral, com as asas peregrina
ondulando no raro vento das alturas,
onde atinge a dimensão de estrela.
A serpente, que arrasta o ventre liso
sobre o limo das pedras da floresta
e a escaldante rocha do deserto,
abriga-se nas sombras mais furtivas
com a calma da vigília distendida
e os olhos da certeza satisfeita.
Apõe-se contra a crosta dos dejetos
e a superfície das camadas de ruínas.
Opõe-se à égua arisca e à águia sidérea
e impõe veneno no banquete edênico.
In. Mais que sempre. Luís Antonio Cajazeiras Ramos. Rio de Janeiro:7 Letras, 2007, p.85.
Imagem: Águia
e o drama da vida se apresenta...
ResponderExcluirbeijo