Hermann Hesse
"Quando Hesse publica sua antologia poética, Andares, a Suíça que habita é uma espécie de ilha não suficientemente distante para que lá não chegue a violência dos ecos e perigos da segunda guerra mundial. A alma lírica do poeta é como um sismógrafo que registra fielmente todos os abalos políticos. A confrontação do fenômeno literário com o da guerra tinha sido uma experiência marcante entre 1914 e 1918. Em 1914 tinha-se deixado levar pelo entusiasmo político; mas logo assume uma posição pacifista da qual não se distanciará jamais".
(Nicolás Jorge Dornheim - ensaista argentino)
Sonhando Contigo
Às vezes quando me deito
e meus olhos se fecham,
com a chuva batendo na cornija os seus dedos molhados
tu vens a mim,
esguia corça hesitante,
dos territórios do sonho.
Então andamos ou nadamos ou voamos
por entre bosques, rios, bandos de animais,
estrelas e nuvens com tintas de arco-íris:
tu e eu, a caminho da terra de origem,
rodeados de mil formas e imagens do mundo,
ora na neve, ora ao fogo do sol,
ora afastados, ora muito juntos
e de mãos dadas.
Pela manhã o sono se dissipa,
afunda dentro de mim,
está em mim e já não é mais meu:
começo o dia calado, descontente e irritadiço,
porém algures continuamos a andar,
tu e eu, rodeados de coleções de imagens,
a interrogar-nos entre os encantos da vida
que nos embroma sem saber mentir.
In.Andares - Antologia poética. Hermann Hesse. Trad.: Geir Campos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, p.138.
Duro acordar em situação muito distante do sonho bom que se sonhou.
ResponderExcluirbeijo