Carlos Drummond de Andrade - Mãos Dadas


Carlos Drummond de Andrade







Mãos Dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

In.Sentimento do mund.2ª ed..Rio de Janeiro: Record, 2002, p.59.Imagem: http://nrse.blog.terra.com.br/files/2009/08/amizade.jpg





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