KOSOVO

Francisco Perna Filho












A dor da separação

castiga minh'alma.

A raça à qual pertenço

condena os meus passos.

A água que me dessedenta

congelou o meu grito.

Sirenes, explosões, desolação e mortes

eis o meu cardápio.

Que mal fiz aos adultos do mundo?

com cinco anos

e já participo das primeiras lições de ódio,

onde se urde, secretamente,

o desdém (DRESDEM) à raça humana.

Quisera ter nascido árvore,

sem clamor, sem dor,

sem família.

Quisera ter nascido lama

e, dessa forma, sem precisar

conviver com irmãos..

apodrecendo em cativeiros da loucura humana.

Quisera ter nascido pedra

para não ter de ver

tantos corações empedernidos

por ideologias.

Quisera não ter nascido!

Deus meu,

clamo pelo colorido das praças,

pela mesa posta em família,

pelos clows nas tardes de Domingo.

Clamo por todos aqueles que se perderam

no labirinto e, cativados pelo minotauro,

foram seduzidos ao ódio de uma guerra,

uma guerra, uma guerra.

Estou com cinco anos:

a lua acaba de se apagar.



In.Refeição. Goiânia: Kelps, 2001, p.93-4.

Imagem: http://www.geocities.com/SoHo/Den/8823/kosopic.jpg

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