DE OLHOS BEM ABERTOS - A que conclusões cheguei

Francisco Perna Filho







Que rumo tomara o mundo,
visto da minha janela,
parece-me o espelho de muitas gerações.
E os meus olhos, como estampas,
guardados no parapeito do tempo
não enxergam mais que o simples
carbono dos acontecimentos,
decodificando os olhares e gestos
amontoados por muitos séculos.


Não matei as esperanças,
tampouco intensifiquei o otimismo,
já que o meu coração transborda incertezas.
Para onde foram todos eles?
A sala permanece vazia, a mesa continua posta,
no entanto, a virtude de cada um tem seu lugar e assento.

Aqui estou, plantada como arranha-céu,
enorme na minha solidão.
Tão sólida e fincada no desejo humano
de solidificar a sua crueldade.
A cidade embebera-se em incertezas:
os semáforos enlouquecidos arrastam os carros ao desespero,
e o meu sonho de menina é igual: são bois em disparada
e uma criança perdida chora o seio da mãe.

Os livros
talvez não compreendam o espaço que habitam:
ali postos, amarfanhados, amarelecidos,
desconsiderando, estáticos e intocados, a fome de alheios olhos
que perscrutam a solidão da casa.
Não tardarão os homens,
e quando vierem, elouquecidos e chorosos,
assim como eu, perceberão que tudo não passa de ilusão
e eu, assim como todos, também terei sabido
de muitas outras coisas.



In. As Mobílias da Tarde. (Última parte do livro) Goiânia: Perna&Leite, 2006,p.103-105.

Foto by Francisco Perna Filho-2009 - Caminito de La Boca, Buenos Aires.

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