A ilusão digital
Mediado por
interfaces várias, o homem se apropria da tecnologia e referenda o seu desejo
de potência. O que antes era desconhecido, hermético, passa a ser natural,
quando, conectado, brinca de deus ao ensaiar, com cores, formas e sons,
o grande texto "mundo". Com um simples toque, é capaz de viajar para
as mais longínquas paragens e interagir - na ilusão de sua virtualidade - com
outros mundos tão "reais" quanto os seu. Cada mundo comporta suas
peculiaridades, é preciso desvendar-lhe os códigos, as várias linguagens com as
quais opera, para sentir-se inserto e dele apropriar-se. Qualquer descuido pode
ser fatal, é preciso atenção total para não se deixar contaminar pelas pestes
que rondam o ciberespaço, os monstros escondidos nos becos digitais, prontos
para atacar o incauto navegador aventureiro.
Assim como
o espaço real, o espaço digital também tem seus limites, qualquer desatenção
pode custar caro ao transgressor, fazê-lo refém da própria astúcia, mas aí a
pena deixa de ser virtual e passa a ser real. Cada um deve saber onde
pisar, para não ser tragado pelos movediços links, ali postos, e embarcar num
mar textual de mentiras e ciberilusão.
Para
qualquer viagem é preciso precaução; as provisões devem ser suficientes
para o embate da jornada; é preciso ter pleno conhecimento das vias a serem
percorridas, para isso o viajante deve munir-se de bússola e mapas, é preciso
não confundir as sinalizações, pois como disse o poeta: "Navegar é
preciso, viver não é preciso".
Depois
de assegurar-se das dificuldades da viagem, de conhecer o percurso a ser
seguido, e dominando aquilo que é básico a qualquer internauta/cidadão,
colocamo-nos nos nossos assentos, na cadeira de nossa escrivaninha, e ali
viajamos por mundos, até então inimaginados, à procura de novidades, notícias,
inventos e/ou por simples curiosidades.
Basta um
cabo, ou um sistema que nos permita uma conexão, para mergulharmos
hipertextualmente nessa vastidão digital de convivências nem sempre amistosas,
mas necessárias, como podemos presenciar, cada vez mais, a proximidade
entre a blogosfera e a midiasfera, uma se alimentando da outra, ou quem sabe,
uma contribuindo com a outra: pautando ou repercutindo fatos de uma
humanidade há muito esquecida.
O que antes
era espaço privilegiado da mídia passa a ser de todos, ou de pelo menos
de quem quer e tem o que dizer, como o são as revistas eletrônicas ou os blogs
que vêm crescendo no grau de importância e passam a ter status de formadores de
opinião, ganhando espaço nas páginas virtuais de grandes jornais do país.
Não sei o
que nos aguarda, o que vem por aí, só sei de uma coisa, os saltos são
grandiosos, como o que estou dando agora: da virtualidade do meu desktop
componho este metatexto, iluminado pelas luzes de uma tecnologia que
cada vez mais me seduz e que dela sou refém. Passamos a computar horas e mais
horas de navegação, "sem lenço e sem documento", tendo como bússola
apenas a nossa vontade, o desejo de romper rumo, quebrar barreiras, superar
limites. Iluminados pela sequência numérica de "zeros" e
"uns", no limite dos sem limite, na finitude do infinito, um olhar
sempre atento buscando na ilusão do que vemos a linguagem mais apropriada para
acalentar as nossas horas de "solidão" e "tédio", na sala
de estar do nosso mundo real.
Imagem retirada da Internet: ilusão digital
Imagem retirada da Internet: ilusão digital
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