Foto by Nuno Ramos
REVELAÇÃO
Teus olhos infindos
peregrinam versos nas bibliotecas,
traspassando todo o concreto com o qual me visto.
Desnudo, sou pura memória.
Memória primordial.
Vejo as figuras formadas à sombra dos pés-de-lima:
cavaleiros, viajantes, lavadeiras;
homens simples.
As sombras, que imóveis me animam,
compõem esta fantasia.
São seres noturnos
que se revelam na luz.
Sombras de engenho,
do todo, de arte,
de partes.
De quem parte sem sombras de dúvidas,
deixando um vazio de sombras:
de memória perdida;
de palavra não dita
no aturdimento dos amores.
Sombras que pesam,
de pedras,
na mais pesada palavra.
Dos mitos,
do mítico,
que perseguem os meus contemporâneos.
Sombras transformadas,
que assombram os teus olhos,
atentos e profundos.
Olhos de sombras
que me iluminam.
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