Foto by Sinésio Dioliveira
Ínvio lado
Há um lado da flor
que não penetramos:
talvez a reserva sitiada
onde guarda seu aroma.
Quase sempre esbarramos
em seus ferrões de defesa
e sangramos nossa dor
pela ponta dos espinhos.
E aí então paramos
e olhamos só por fora
a beleza que se entrega
com sua cota de reserva.
É do outro lado (do mistério)
que não alcançamos
que a flor explode
em toda sua grandeza.
É lá que se contorceu
e guardou sua história
e sangrou as suas gotas
e a solidão que (sobre) carrega.
Quem olha uma flor
ou um ser desabrochado
vê um prisma (feio ou lindo)
jamais o seu lado.
inviolado.
In.BRASIL, Assis. A Poesia Goiana no século XX. Goiânia:Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira/Rio de Janeiro: Imago, 1997, p.153.
Belo poema! Tudo bem que há um lado não-penetrável da flor, mas o acesso permitido já é o bastante. O prazer de sentir o perfume é mais sublime do que entendê-lo.
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