Otto Maria Carpeaux - Madame Bovary


Carpeaux, nesta parte do texto, fala do verdadeiro personagem do romance Madame Bovary. Mostra um Flauber anti-romântico e um estudioso da estupidez humana. Vamos à leitura!


(...)

O romance se chama Madame Bovary. O título indica que Emma Bovary é sua "heroína". Mas será realmente assim? A narração começa e termina com o estúpido Charles Bovary; e nela desempenham grande papel o estúpido don-juanismo de Rodolphe e a estúpida paixão de Léon, a estupidez do farisaico padre Bournisien e todo esse pequeno ambiente de província, sem saída para Emma e sem saída para ninguém e pode-se afirmar: o verdadeiro personagem do romance é a Estupidez humana.

Flaubert foi grande estudioso da estupidez humana. Colecionou assiduamente burrices que leu em livros e jornais. Seu último romance, Bouvard et Pécuchet, estava destinado a ser uma espécie de epopéia da estupidez. E o paraíso da estupidez é, para Flaubert, aquele ambiente que ele conhecia tão bem e em que ele passara a vida toda: a província.

A frança é o país mais centralizado do mundo. Tudo que tem valor ou interesse está concentrado em Paris. Para a província só ficam os não-valores e os sonhos decepcionados, os ressentimentos e as paixões recalcadas. Por isso mesmo é a província o ambiente preferido do romance francês, como um laboratório em que se podem realizar experiências psicológicas. Na província, se passa a maior parte dos romances de Balzac; ainda será provinciano o ambiente de La Nausée, de Sartre - Flaubert reduziu a província à estupidez dela, incapacidade intelectual, emocional e insensibilidade moral. Essa estupidez conforme Flaubert, pode ter muitas formas, e uma dessas formas é o pseudo-romantismo de Emma, "o poder da pessoa para emprestar a si mesma uma penalidade fictícia e a desempenhar um papel que não se coaduna com sua verdadeira natureza". Seria esta a definição do falso romantismo? Não. Para Flaubert, que fora romântico na mocidade e que chegou a odiar o romantismo, aquilo era todo o romantismo. E daí podemos tirar duas conclusões de maior importância para a compreensão da obra:

1) Flaubert pertence àquela grande corrente do pensamento europeu que, por volta de 1850, abandonou decepcionada o romantismo para encarar a realidade com os olhos desiludidos de uma nova sobriedade que poderia ser chamada inexatamente e sem pensar em Auguste Comte: "positivista". É a mentalidade de Flaubert e a de Thackeray, Gontcharov, Fontane e outros grandes escritores da época.

2)O anti-romantismo dessa mentalidade mandou excluir dos romances até os últimos restos da mentalidade romântica. Flaubert, sucessor imediato de Balzac, desprezou os enredos muitas vezes violentamente melodramáticos do seu mestre. Reduziu o romance aos contornos mais simples e menos dramáticos da realidade observada. Nesse sentido, o anti-romantico Flaubert é o precursor direto do naturalista Zola (mas iremos ouvir, dentro em pouco, que é necessário apor uma correção restritiva a essas afirmações).

(...)


Até amanhã!

In.Madame Bovary.Gustave Flaubert.Trad.:Sérgio Duarte.Rio de Janeiro:Ediouro, s/d,p.14.

2 comentários:

  1. Ensaios interessantes, não sei por que suas postagens não estão sendo sinalizadas no meu blog. Pensei até que estava ocupado com outras coisas.
    Tenho um selo para seu blog no meu blog, venha busca-lo.
    Vou ler as outras postagens
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Chico
    Vou tentar explicar, sou meio anta nisso.
    1- duplo clique em cima do selo para salva-lo, como faz com qualquer imagem da net.
    2- entre no seu blog e va para uma nova postagem, escreva e depois adicione a imagem. Tem aquele quadradinho para adicionar imagens, clique nele e depois pegue o selo que guardou em alguma pasta de seu micro. É como quando você adiciona imagens em seus post.
    abraços
    Voce sabe

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