BRASIGÓIS, POR ELE MESMO
Tão lento e devagar ia o poeta, que suas palavras, suas contemplações, saiam compiladas no imaginário da solidão: “uma cabana à beira mar: eis o sonho do refúgio impossível. Também, no mais ermo lugar o tempo fustiga como acoite a mente que sempre deseja estar em outro lugar. Jamais encontrei o meu menino em mim. Certa nostalgia faz-me ter saudades do cerrado quando estou no mar, e maravilhar-me do mar quando estou no cerrado. Em Caiçara do Norte o silêncio é mais profundo, e tem o som de motor contínuo. É o som e o sentido da máquina do mundo, igual e diferente em todos os lugares. Sobrevivente de uma agitação vazia sem finalidade, vejo-me, hoje, como homem praiano. Vivo às margens do oceano que povoa meus sonhos. E não me encontro feliz. Trabalho desde a alvorada até as horas mais silenciosas da noite. Ocupo-me do reino das palavras. Mas não escrevo para que me amem. Tanta estrada com muito nada por todos os lados, eu tenho viajado. Na casa planetária em que vivo, sinto saudades dos amigos que deixei em Goiás. Longe estou da vida vertiginosa que vivia. Vim morar onde acaba o sertão, e começa a vastidão do mar. Ao longe, vendo os primeiros albores da madrugada, escuto o bramir do lendário Atlântico. É como se escutasse o som contínuo da máquina do mundo’’.
Quinze dias com Ana Maria fiquei no condado de Brasigóis (também lá estavam o poeta Edival Lourenço e sua musa Tânia), observando os passos do poeta, tentando decifrar o enigma de uma mudança tão rápida, desde endeusamento ao mar, nestas imagens tão sensíveis pelo reino mágico das palavras. Somente agora, em Goiânia, lendo o seu livro Vozes do Farol é que encontrei a resposta. Estava na frase da menina caiçarense de 7 anos ‘’O mar cura!’’.
A benção, Brasigóis Felício, meu amigo e poeta do mar e do Hotel do Tempo, farol iluminado dos ‘’mares nunca dantes navegados!’’.
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