PRÓLOGO
Chegou a hora de incendiar as
palavras
e atiçar fogo na noite escura.
Ah, erga-se o facho das estrelas
nesta noite de puro abril:
quero a luz derramada
sobre a chaga do meu peito
e a sangria de minhas mãos à
mostra.
E que não me venham dizer que não
é tempo
de falar de flores e que
passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei
ainda
de amar com meu amor desesperado.
(Mesmo não havendo intervalo
no calendário de minhas dores).
Mesmo que me digam: “Não é tempo
de falar de amores”,
eu viro as costas e não me importo
e abro as portas dos meus tumores.
Tudo que habita na retina do meu
olhar
são os passos largos do barco fundo
no mar imenso do procurar.
Esta noite, sob o manto das
estrelas,
erguerei o incêndio das palavras!
Venham todos assistir o grande
espetáculo:
não vês, na vidraça dos meus olhos,
uma colméia de abelhas? Uma centelha
desesperada, debulhando raios de luz?
Eis o prenúncio de um grande
acontecimento.
(Não haverá gozo nem sofrimento,
mas a explosão da lucidez de um louco).
Venham todos! Vou incendiar o
mundo
com um só dos meus olhares.
(Eu mesmo sou uma aldeia
e o meu coração pode matar a sede
de todos os mares).
Ah, eu peço pelo amor de Deus ou
do demônio:
abram as comportas do mundo.
Façam silêncio por um segundo:
aqui existe um homem incendiado de amor
e um coração que vai saltar pela janela
do peito!
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