Tagore Biram (In Memoriam) - Poema


PRÓLOGO 


Chegou a hora de incendiar as palavras
       e atiçar fogo na noite escura.
Ah, erga-se o facho das estrelas
       nesta noite de puro abril:
       quero a luz derramada
       sobre a chaga do meu peito
       e a sangria de minhas mãos à mostra.

E que não me venham dizer que não é tempo
       de falar de flores e que
       passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei ainda
       de amar com meu amor desesperado.
       (Mesmo não havendo intervalo
       no calendário de minhas dores).

Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,
       eu viro as costas e não me importo
       e abro as portas dos meus tumores.

Tudo que habita na retina do meu olhar
       são os passos largos do barco fundo
       no mar imenso do procurar.

Esta noite, sob o manto das estrelas,
        erguerei o incêndio das palavras!
        Venham todos assistir o grande espetáculo:
        não vês, na vidraça dos meus olhos,
        uma colméia de abelhas? Uma centelha
        desesperada, debulhando raios de luz?

Eis o prenúncio de um grande acontecimento.
        (Não haverá gozo nem sofrimento,
        mas a explosão da lucidez de um louco).

Venham todos! Vou incendiar o mundo
        com um só dos meus olhares.
        (Eu mesmo sou uma aldeia
        e o meu coração pode matar a sede
        de todos os mares).

Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:
        abram as comportas do mundo.
        Façam silêncio por um segundo:
        aqui existe um homem incendiado de amor
        e um coração que vai saltar pela janela do peito!

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