O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
Imagem retirada da Internet: açucar
Olá professor!
ResponderExcluirNossa que forte e contraditório o final desse poema heim!
Como dizia Augusto dos Anjos a mão que afaga é a mesma que apedreja, se não me engano.
Eduardo..
Eduardo, verdadeiramente, Ferreira Gullar é um grande poeta, sempre voltado para causas sociais. Um belo poema!
ExcluirPor que a poesia "O açucar" não foi creditada? Ferreira Gullar é brilhante e merece cuidado.
ResponderExcluirUm abraço, direto de Brasília.
Mirian, Perdão! foi pura distração; Os créditos foram dados. Obrigado pela visita e leitura. Abraço
ResponderExcluirChico, imaginei mesmo que havia sido apenas distração. E para selar a paz, um mimo pra você, pois sei de sua admiração por ele. Bjo
ResponderExcluirhttp://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt