Francisco Perna Filho
Para o poeta JJ Leandro
Entre um banho de rio e delinquência,
no vermelho doce das melancias,
o albino solitário copia o branco da tarde nas suas retinas,
ao curiar, pelo vão da janela,
os saltitantes seios da beata solteirona.
Adiante,
os mascates cobrem a nudez das moças,
e a platéia aplaude,
entre um grito e outro
do esquálido vendedor de quebra-queixo.
Meninos jogam finca
e soletram as tardes em sabores de q-suco e vinagreira.
Arroz,
farinha,
frango,
fumo,
carne seca,
e o mercado se enche de cores e movimento
carne seca
fumo
frango
farinha
arroz
Do outro lado,
nos desvãos da carne,
as prostitutas compõem seus pecados
e celebram a vida nos goles de Campari
e tragadas de Albany.
Imagem - Pablo Picasso - The Tragedy,1903 - (National Gallery of Art, Washington D.C.)
Que grande surpresa, poeta, ao abrir hoje essa "bíblia sagrada" para ler me deparo com essa poesia que desnuda o mundo que vivi, vivo e guardo na lembrança, cada dia acrecentando um pedaço, como esse lindo poema inclusive.
ResponderExcluirGrande abraço