A mão que (não) balança o berço
Espiral da vida,
escada retorcida,
raios de roda que se
retorcem
no biciclo da
existência.
Escada espiralada,
corda, cordão
umbilical,
a vida um caracol,
casa de caramujo,
a ostra em sua
concha,
uma criança.
A triste noite,
o berço ausente
dentro da noite,
sem o beijo de afeto,
sem a mão de mamãe
que balance o berço,
sem canção de ninar,
nenhum gesto
de amor.
Na configuração do
DNA,
o ser que há,
o que é,
o que seria,
o que será,
o que haveria
de ser.
DNA de quase NADA,
de neném mal-nascido,
filho de mãe
desnaturada,
prematuro e sem
futuro.
Parido escondido,
assassinado ou descartado
na água suja de um
lago surdo,
no lote vago, insalubre,
onde quer que seja
e se despejem
os crimes da urbe.
Fetos no lixo,
abortos,
pasto de abutres.
Bebês vivos,
incômodos,
largados feito bichos
no abandono.
Frutos e rejeitos
de úteros malditos.
O pequenino corpo
envolto em saco
plástico,
atirado às rodas dos
carros,
uma crosta sem rosto
colada no asfalto.
Hediondo
mundo sórdido.
“Surto pós-parto”,
um após outro,
recurso psiquiátrico
ou pretexto
para assassinato?
A resposta oculta
na placenta,
ou nem nunca
que se inocenta
a culpa transparente
no silêncio dos
inocentes.
Nada que se faça
trará de volta
os meninos mortos,
nada mudará esse
fato,
senão que se salvem
outros
recém-nascidos.
O que mais assusta
nos atos insensatos
e desalmados,
é o monstro
que nos fita
por trás de tudo.
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário aqui