PÁSCOA
Eu não vejo sua face, a olhos vistos;
mas ele me vê e me conduz por essa
estrada torta, a que faz reta e plana,
porque tenho de caminhar mesmo
sem saber o ponto da encruzilhada
com suas múltiplas direções.
Por isso, caminho de olhos abertos,
porque ele venceu a morte para me
dar a vida que me faltava antes do caos
e depois do pecado que trago entranhado
na minha essência de homem humano.
Mas, se ele me conduz, porque temer
a fala e o pecado que se enrosca solerte
entre as árvores do engano de Lilith
enrolada em minhas pernas sequer
desenhadas à sombra da lua nova?
Ele me conduz, porque a cruz destronou
a maçã e suas cores de pecado debuxadas
pelos pés da cobra que me queria lambido
pela língua bífida que morde o próprio rabo
e que me quer enrolado no centro do círculo.
Por isso caminho, sou homo viator, faço
a minha páscoa e a minha peregrinação, nasa’,
ao interior do verbo para nele me conformar
em homem e em poesia nesse êxodo sem fim
à Terra Prometida do reino da linguagem
que me transportar para a eternidade.
Imagem retirada da Internet: Easter