Naturalmente, decido-me. Possível
um dia ainda o chão afortunado!
Em veredas, aposso-me do cego
cristal oculto sob o aço dos meses.
À razão de minutos, em segredo,
rende-se o nominativo das coisas
e, entre ávido e surpreso,
Ouço o marulho da existência.
Rendo-me presa de novos acordes,
sempre moirão de acesso a sonhos
contumazes, metal roubado ao tempo
longínquo de aspirações e confidências.
O que fiz para ser triste e provar
a mensagem das águas carentes de sentido!
Tu tens algo a dizer-me, passado
ferido, moeda azinhavrada,
medalha de erros, ensanguentado
lábaro bradando na quilha do horizonte.
O instante é novo e merece
um post-scriptum mais severo.
Deste-me sem sangue a luz e eu não sei
o que fazer com a outra metade.
Perdi-me sem saber na matéria dos mitos,
jorrando-me na poeira de palavras
desconhecidas. Conscientemente
antes que anoiteça, galoparei
a silenciosa cordilheira e, sobre rochas,
lá ficarão meus rastros desertores,
ao sinal do tropel visionário e incendido.
Quem diria que fomos nós – os parias
os ignotos, os desmiolados? Fomos?
Negros são os olhos de Sophia Loren;
Verde, a carne dos meninos de Biafra.
Alguém dispara bolhas de sangue velho
aos olhos de santos bêbados de incenso.
Escorre veneno das gretas do Aconcágua,
o rio São Francisco ainda geme. Geme
Por que não? Por que não?
Teu porto é o homem, ó deus
alvoroçado, tempo humano, torso
coberto de ervas e flores selvagens.
(1969)
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