A CASA NASCE DAS ÁGUAS
A casa de Aninha, a casa grande
na beira da ponte,
dá mão ao tempo e espera outro século.
Mas a casa está só.
Não há mais quem lhe varra o chão
e espane pó das histórias.
O tacho de cobre não coze mais doces:
Aninha descansa em São Miguel.
Não mais as histórias dos becos nem livros de cordel.
Doce Ana doutros anos,
força e voz, tempo e tempero.
Foi-se Ana, a cordeleira, cordilheira feito humana,
canto e coro, coralina, voz menina, canto forte
cristalina voz poesia.
A casa nasce das águas
à beira da ponte, à beira do tempo.
A casa escura das águas.
Rio Vermelho resmunga.
Rio velho, triste...
Rabugento, o Rio Vermelho.
In. SARAU. Goiânia: Edição do autor, 2003. p.152.
Foto by Zemaria: Casa de Cora
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