NATAL
Eu nunca fiz um poema de Natal,
talvez por não sabê-lo,
embora compreenda sua simbologia.
Sei que o Cristo renasce em cada coração,
que as cidades se enchem de luzes coloridas e brilhantes,
que os homens tornam-se mais solidários e felizes.
Eu sei de tudo isso,
mas também sei dos homens empedernidos,
das mulheres maltratadas,
das crianças abusadas,
das trapaças,
e das sórdidas armações palacianas.
Eu sei de tanta coisa,
mas ainda sei tão pouco da vida,
talvez esteja aí a minha dificuldade para compor um poema natalino.
Seria fácil falar de presentes,
desejar votos de felicidades,
falar de abraços e sorrisos,
de manjedouras e presépios,
de um menino que nasce para salvação do mundo.
Talvez fosse simples assim,
mas a verdade se nos impõe cortante,
as cores, apesar indução midiática,
são de outras matizes, de menos brilho e bem doídas,
como no conto de Dostoievski “A Árvore de Natal na Casa do Cristo”,
ou no romance “O Caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini,
ou, quem sabe, no absurdo de "A Metamorfose", de Franz Kafka.
Sei que num poema de Natal os leitores desejam cantatas,
louvores e muita alegria,
não havendo espaço para qualquer pensamento destoante
daquilo quem vem a ser bondade.
Tampouco para palavras que roubem a esperança de centenas de milhares de miseráveis
espalhados nas prisões,
nos campos de trabalho escravo,
nos hospitais e hospícios,
nos cárceres dos regimes totalitários.
Um poema de Natal
não comporta maldade,
estelionato,
usurpação.
Num poema de Natal
todos devem estar felizes,
solícitos e
amigáveis.
Por tudo isso,
é que eu sinto dificuldade em fazer um poema de Natal.
Para o ano que vem,
desejo que as coisas melhorem,
que a verdade consiga vencer os artifícios,
que os olhares possam refletir as almas,
que os homens consigam se dar as mãos,
que as crianças possam confiar nos pais,
e que os velhos tenham dignidade.
Para o ano que vem
eu não prometo um poema de Natal, ainda,
mas estou certo de que serei melhor,
que seremos melhores
em todos os aspectos.
Com tanta coisa para falar,
e o poema que não vem,
para este ano,
aproveito para dizer
que continuo acreditando no homem,
na sua bondade,
na sua criatividade,
no seu amor.
Aproveito para louvar a Deus,
na sua infinina sabedoria e nobreza,
que, apesar da maldade humana,
nunca abandona os seus filhos.
Aproveito para desejar um Feliz Natal!
Imagem retirada da Internet: crianças
Bem, poeta é poeta. Sempre atento, sempre atual. Natal é mais que comércio, é a comemoração do nascimento do Salvador Jesus, predito pelo profeta Isaías lá no Antigo Testamento. Vive Jesus nos corações? Se a resposta é positiva, teremos menos violência, menos injustiça.
ResponderExcluirBelo poema. Não podemos ser contagiados por nenhuma alegria cíclica. Essa paz relacionada ao Natal não pode ser "vivida" por obediência ao calendário. Ela tem de ser natural, tem de ser um estado constante em nossa alma. A barba branca do velho Noel são fios de plástico fabricados na indústria atrás do morro...
ResponderExcluir