Francisco Perna Filho - Poema









Destino de pedra


De quem são os meninos
que dormem ao relento,
que sonham grandiosidades,
e sucumbem nos esgotos da cidade grande
consumidos na fumaça da própria miséria
de uma existência precária?
De onde vêm esses meninos
que cumprem um destino de pedra,
pedras de crack que sempre carregam.
Sísifos da modernidade,
armados de inconsciência,
dormitando pelos esgotos
e sucumbindo na ilusão do transitório?
De que são feitos os seus dias,
os seus olhos medonhos,
as suas almas esvaídas
na maldade inocente da química
mortífera de uma breve existência?
Para onde caminham essas criaturas
silenciadas em mentiras,
em promessas e bofetadas,
em fome de existência,
em liberdade forjada?
São filhos da rua,
da lástima do mundo,
da indiferença dos homens.
Vêm dos restos do mundo,
da miséria urbana,
das crateras da incompreensão.
São feitos do lodo da existência,
das sobras de ideologias,
do sexo barato das ruas.
Caminham em círculo,
emperdenidos apóstolos,
com suas gotas,
com suas pedras,
com seus delírios,
sem destino.


Foto by Vitor Silva - foto retirada da Internet

2 comentários:

  1. Que papo sério você teve com sua musa hein! Você foi preciso neste belo-triste poema, apontou o "esgoto" onde esses meninos, "sísifos da modernidde", estão mergulhados. Não há caminho no meio dessa pedra atravancando o caminho deles.

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  2. Oi, Chico: realmente, quanto mais denunciarmos essa realidade, melhor. Porém, além disso, vocês que têm o dom da palavra precisam - tambémn e principalmente - denunciar que é um problema de origem social e que, por isso mesmo, deve ser adequadamente tratado nas políticas de governo para a área, ao invés de ser ignorado, como se não fizesse parte do cotidiano. (edgard)

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