Mar,
simplesmente o Mar,
envolto de homens
tão prenhes de si mesmos,
confortáveis nos seus assentos,
nas suas calamidades imperceptíveis,
no olhar por cima que singra o sem-sentido,
o invisível ocaso dos objetos.
Somos todos náufragos,
pálidos senhores do Agora.
Só a Arte nos tira da calamidade
de sermos tão humanos e brutos,
brocados como as velhas tabocas,
abandonados nas barrocas da nossa imaginação.
Navegar será sempre possível,
mesmo que nos tirem as rédeas,
porquanto o nosso norte está para
lá dos oceanos,
dos angicos,
dos pau d'arcos,
das sarãs.
O nosso Norte será sempre a palavra.
Belíssimo poema, Chico! Somos todos náufragos em mar aberto, no incompreensível mar da vida, a eterna, absurda e bela travessia. A arte quase nos redime, mas não é a vida na brabeza dos dias - seguimos, mesmo que nos tirem as rédeas. Mas a arte nos permite sofrer com um pouco mais de estética. Belíssimas e encantatórias imagens nesse seu poema, o mar, sempre o mar, e o nosso chão, o telúrico, as raízes. Fico aqui com a sensação norteadora e desnorteadora da palavra: velhas tabocas brocadas, além dos angicos, dos pau d'arcos e das sarãs. A palavra é norte e a alma é sul.
ResponderExcluirUm abraço danado de afetuoso.
Cida Almeida.