João Cabral de Melo Neto - Poema




JOÃO CABRAL DE MELO NETO





O MAR E O CANAVIAL


O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncios paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional de preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar

*

O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minuncioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.


In.Melhores poemas de João Cabral de Melo Neto. Seleção de Antonio Carlos Secchin. 4ªed. São Paulo: Global, 1994, p.183.
Imagem retirada da Internet:Ilha de Cabanas

Comentários

  1. Tem um selo para você no meu blog.
    Poema dificil este, acho que estou meio lerda hoje.
    beijos

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui

Postagens mais visitadas