Francisco Perna Filho - Poema





Francisco Perna Filho











Para lá do sem-sentido


Mar,

simplesmente o Mar,

envolto de homens

tão prenhes de si mesmos,

confortáveis nos seus assentos,

nas suas calamidades imperceptíveis,

no olhar por cima que singra o sem-sentido,

o invisível ocaso dos objetos.

Somos todos náufragos,

pálidos senhores do Agora.

Só a Arte nos tira da calamidade

de sermos tão humanos e brutos,

brocados como as velhas tabocas,

abandonados nas barrocas da nossa imaginação.

Navegar será sempre possível,

mesmo que nos tirem as rédeas,

porquanto o nosso norte está para

lá dos oceanos,

dos angicos,

dos pau d'arcos,

das sarãs.

O nosso Norte será sempre a palavra.



Foto by Sinésio Dioliveira - Todos os Direitos reservados

Um comentário:

  1. Belíssimo poema, Chico! Somos todos náufragos em mar aberto, no incompreensível mar da vida, a eterna, absurda e bela travessia. A arte quase nos redime, mas não é a vida na brabeza dos dias - seguimos, mesmo que nos tirem as rédeas. Mas a arte nos permite sofrer com um pouco mais de estética. Belíssimas e encantatórias imagens nesse seu poema, o mar, sempre o mar, e o nosso chão, o telúrico, as raízes. Fico aqui com a sensação norteadora e desnorteadora da palavra: velhas tabocas brocadas, além dos angicos, dos pau d'arcos e das sarãs. A palavra é norte e a alma é sul.

    Um abraço danado de afetuoso.

    Cida Almeida.

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