Manuel Bandeira - Poema







Manuel Bandeira







O ÚLTIMO POEMA




Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.



In.Manuel Bandeira — São Paulo: Cosac Naify, 2006, pág. 35.
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Gregório de Matos Guerra - Poema




Gregório de Matos Guerra
(1633 - 1696)






Gregório de Matos e Guerra (Salvador, 23 de dezembro de 1636 — Recife, 26 de novembro de 1695), alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, foi um advogado e poeta do Brasil Colônia. É considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no período.Gregório nasceu numa família com o poder financeiro alto em comparação a época, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era português, natural de Guimarães). Legalmente, a nacionalidade de Gregório de Matos era portuguesa, já que o Brasil só se tornaria independente no século XIX. Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época. Em 27 de Janeiro de 1668 teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de Janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador. Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II, rei de Portugal, nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil. Frontispício de edição de 1775 dos poemas de Gregório de Matos. O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido. Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados. Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão. Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição (acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão). A acusação não tem seguimento.Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola. Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, ainda que não possa voltar à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola. Porém, minutos antes de morrer, pede que dois padres venham à sua casa e fiquem cada um de um lado de seu corpo e, representando a si mesmo como Jesus Cristo, alega "estar morrendo entre dois ladrões, tal como Cristo ao ser crucificado".


SONETO LÍRICO


Quem viu mal como o meu, sem meio ativo?
Pois no que me sustenta e me maltrata,
É fero quando a morte me dilata,
Quando a Vida me tira é compassivo!

Oh! do meu padecer alto motivo!
Mas oh! do meu martírio pena ingrata!
Uma vez inconstante, pois me mata;
Muitas vezes cruel, pois me tem vivo!

Já não há, não, remédio, confianças;
Que a Morte a destruir não tem alentos,
Quando a Vida em penar não tem mudanças:

E quer meu mal, dobrando os meus tormentos
Que esteja morto para as esperanças,
E que ande vivo para os sentimentos.




In.Lírica, 1923, p. 21,por FB/CL, p. 463. (Antologia das Antologias. Gonçalves, Maria Magaly Trindade. São Paulo: Musa, 1995, p.58).
Imagem retirada da Internet - by Charlie Waite - Lucca, Tuscany Italy

Delermando Vieira - Poema





Delermando Vieira




Nasceu em Caldas Novas, GO, no dia 15 de fevereiro de 1950. Fez os estudos no Grupo Damiana da Cunha, Colégio Estadual Professor Pedro Gomes e Escola Técnica de Comércio de Campinas. Cursou Direito na Universidade Federal de Goiás. Professor de Literatura, é formado em Língua Espanhola pela Universidade Católica de Goiás. Membro da Academia Goiana de Letras e da Academia de Letras e Artes de Caldas Novas. Possui inúmeras premiações literárias. Fez cursos e pesquisas no campo da Cabala e Demonologia, que acabaram influenciando a sua poesia, dando ao seu estilo uma “inclinação metafísica”, na análise de Darcy França Denófrio. Seus primeiros livros foram apresentados por Bernardo Élis e José Mendonça Teles. Em correspondência ao autor, José J. Veiga diz que seus “poemas atingem um tom compatível ao de grandes nomes de nossa poesia”. Bibliografia: Corpungido, Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 1982; A Sinfonia dos Peixes, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, Goiânia: Unigraf, 1982; Opus, Prêmio Secretaria da Cultura e Desporto de Goiás, Goiânia: Graf. O Popular, 1982; A Flauta do Cão Abigail, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, Goiânia: CERNE, 1984; Como Pássaros Suspensos no Jardim do Tempo, Prêmio Nacional de Poesia, Academia Goiana de Letras, Goiânia: Gráfica e Editora Líder, 1988; A Luz das Velas de Sebo, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, Goiânia: Secretaria de Cultura da Prefeitura de Goiânia, 1990; Queda & Ascensão, segundo a Visão dos Pássaros, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, Goiânia: Gráfica Print, 1991; Iluminada Ausência da Luz, Prêmio Bolsa de Publicações José Décio Filho, 1992 e prêmio Calandra. Goiânia, 1996; A Dor de Amar Demônios, contos. Prêmio Bolsa de Publicações Cora Coralina. Goiânia, 1997. (Fonte: Antônio Miranda)




EM LA BODEGA




E assim naquelas tardes de um aguaceiro
cobrindo as copas das árvores,
as calhas,
as chaminés,
o mundo,
eu me punha
(talhe o espelho na espuma do vento)
pensativo e a beber na Taberna dos Pífanos,
à baila das danças, na espera daquilo que mais
se parece com ânsia, que mais se parece com luz,
que mais se afeiçoa ao sol.
E assim, naquelas tardes,
sombras de corais
(e musgos)
doridos,
eu me atracada derruído,
tal barco naufragado no incabível soluço das ondas, às luminárias que à
boca da noite se tangiam foscas,
como as roscas (moscas?) na fonte da angústia,
feito aviso diviso em seu visgo,feito visgo indiviso no aviso.
Em La bodega,
donde públicas manos proclamavam
el aroma de lãs uvas y evocavam
a máscula e mácula máscara do dia,
u buscava, mirando o crepúsculo
derretido na tepidez das cinzas insalubres,
o pássaro — titã dourado no sussurro eólico
das vestes em alfaias —, que deveriam pousar,
a qualquer momento, no ríctus das horas
embebidas em gotas labiais.

Do passado uma sombra se me chegava (atarantada?)
como tarântula tramando, andando, na madrugada.
Uma sombra, e não mais que uma sombra,
mas uma sombra a mais, se me chegava,
me tocando o peito-piano,
num aquebranto gitano,
entre os vinhos esfumados no ar. INSUSTENTÁVEL TENTAÇÃO DE AMAR

Beija-me com os beijos de tua boca
Porque melhor é o teu amor
do que o vinho.





Imagem retirada da Internate - Sombra.

Coelho Vaz - Poema




Geraldo Coelho Vaz



Geraldo Coelho Vaz nasceu em Goiânia (GO), em 24 de setembro de 1940. Fez os cursos primário, ginasial e Técnico em Contabilidade na cidade de Catalão (GO). Cursou Direito na Universidade Católica de Goiás. As atividades literárias de Coelho Vaz tiveram início ainda em Catalão, no Grêmio Lítero-Cultural Águia de Haia. Professor de Direito Penal e de Processual Penal, na Escola dos Oficiais da Polícia Militar. Desde sua estréia em livro, em 1963, passou a participar de órgãos culturais e atuar na imprensa, com destaque no jornal O Quarto Poder. Entrou para a Academia Goiana de Letras e para a Academia Catalana de Letras, e é um dos fundadores da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, a qual presidiu por três vezes. Ocupou diversos cargos, cabendo destacar que foi secretário de Estado de Cultura, presidente da Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, além de ser membro do Conselho Municipal de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Recebeu o troféu “Tiokô”, conferido pela UBE-GO. Em 2004, recebeu a medalha “Hugo de Carvalho Ramos”, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, e o prêmio Clio de História, pela Academia Paulistana de História, com o livro “Senador Canedo – vida e obra”, e a comenda “Grão-Mestre da Ordem do Mérito Anhanguera”, do Governo goiano, no grau de Comendador pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás.Vem construindo sem vaidade uma obra ampla, de lirismo puro, como completa Gabriel Nascente: “numa total lucidez”, que não se arroga ser a verdade última dentro da poesia goiana, mas que ocupa espaço por total merecimento.Bibliografia: Poemas da ascensão, RTFG, 1963; Mensagem livre, Ed. Oriente, 1971; Águas do passado, Líder, 1986; Corpo noturno, Ed. Kelps, 1991 e O Outro Caminho, Ed. Renascer, 2007. Deixam de figurar aqui os livros jurídicos e de história. (Fonte: Antônio Miranda)




JAMAIS ME ESQUECERÁ



Sirva-se de mim.
O que jamais imaginei.
Eu, observando calado
o amor de todas as noites,
momentos de excitação
e forte desejo.
A fortaleza
está na voz suave,
deslizante na aurora matinal.

Sirva-se de mim
uma vez mais.
Em forma de mar,
furacão em ondas.
Com mãos firmes
eternize a imagem
desejada do encantamento
da noite cálida.

Sirva-se de mim
e jamais me esquecerá.




In.O Outro Caminho. Goiânia: Renascer, 2007. p.29.
Imagem retirada da Internet - Noite.

Hélverton Baiano - Poema



HÉLVERTON BAIANO




Hélverton Valnir Neves da Silva, conhecido intimamente como Hélverton Baiano, nasceu em Correntina, interior da Bahia, em março de 1960 e, após concluir o primário e o ginásio em sua terra natal, mudou-se para Goiânia aos 15 anos de idade. De lá para cá, formou-se em jornalismo e fez especialização em português/redação. Além de ser um dos homens que cuidam da agenda do governador Alcides Rodrigues, Baiano deixa correr pelas veias os seus sentimentos de poeta e escritor, o que já lhe proporcionou inúmeros prêmios em sua trajetória literária. Recentemente lançou o livro Paraíso Profano, do qual transcrevo o poema a seguir:


MORRER



Morrer é tão repentino
Às vezes é mais que um século
Morrer é a eternidade
Do que é vento e mistério.

Morrer é tanto lamento
No tanto que o rumo é incerto
Quem vive não vê por dentro
O que a morte tem de/certo.

Morrer, amigo, é propriedade
Em tudo e apenas de quem morre
Pois só o morto na verdade
Sabe o risco que ele corre.

Morrer é tão bom ou ruim
Que não se pode medir
Porque só quem morre sabe
A morte seu tanto sentir.




In. Paraíso Profano. Goiânia: ND Editora, 2009,p.143.
Foto by Kais Ismail - Pensando - imagem retirada da Internet.

Sinésio Dioliveira - Poema









POEMA MUDO



Eu quis fazer um poema àquela azaleia.

Diante de tanta beleza

o poema ficou mudo

perdeu a voz

se sentiu pequeno.

A imagem vai além das mil palavras.

Possuo poucas

e elas não têm as cores da flor.

O melhor é o poema ficar calado

existir apenas dentro do poeta.


Foto by Sinésio Dioliveira - Azaleia - Todos os Direitos reservados.

Lêdo Ivo - Poema


LÊDO IVO




Lêdo Ivo, jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta, nasceu em Maceió, AL, em 18 de fevereiro de 1924. Eleito em 13 de novembro de 1986 para a Cadeira n. 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. É filho de Floriano Ivo e de Eurídice Plácido de Araújo Ivo. Casado com Maria Lêda Sarmento de Medeiros Ivo, tem o casal três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.Estudou no Colégio Americano Batista, no Grupo Escolar D. Pedro II e no Colégio Diocesano de Alagoas. Transferindo-se para o Recife em 1940, estudou no Instituto Carneiro Leão e passou a colaborar na imprensa local e a conviver com um grupo literário de que fazia parte Willy Lewin, o qual haveria de exercer grande influência em sua formação cultural. Dedicou-se à vida literária, participando do I Congresso de Poesia do Recife em 1941. De volta a Maceió, concluiu o curso complementar no Liceu Alagoano. Em 1943, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil e passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional. Foi redator da Tribuna da Imprensa e da revista Manchete, colaborador de O Estado de São Paulo e editorialista do Correio da Manhã.Estreou na literatura em 1944, com o livro de poesias As imaginações. No ano seguinte, publicou Ode e elegia, distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o primeiro de uma série de prêmios que Lêdo Ivo irá obter, nos anos subsequentes, com a publicação de obras de poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Em 1949, proferiu, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a conferência "A geração de 1945". Formou-se naquele ano pela Faculdade Nacional de Direito, mas nunca advogou, preferindo continuar exercendo o jornalismo.No início de 1953, foi morar em Paris. Visitou vários países da Europa e, em agosto de 1954, retornou ao Brasil, voltando às atividades literárias e jornalísticas. Em 1963, a convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses (novembro e dezembro) pelos Estados Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.Sua obra de poesia e de prosa foi amplamente reconhecida e premiada. Seu romance de estréia As alianças (1947) mereceu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Ao seu livro de crônicas A cidade e os dias (1957) foi atribuído o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Em 1973, foram conferidos a Finisterra (poesia) o Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. O seu romance Ninho de cobras foi distinguido com o Prêmio Nacional Walmap. Em 1974, Finisterra recebeu o Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Seu livro de memórias Confissões de um poeta (1979) mereceu o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. A seu livro de ensaios A ética da aventura foi conferido, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela obra poética. Eleito "Intelectual do Ano de 1990", recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Ao seu livro de poemas Curral de peixe (1995) o Clube de Poesia de São Paulo atribuiu o Prêmio Cassiano Ricardo.Lêdo Ivo é uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira, notadamente na poesia. A crítica literária o insere como o poeta mais representativo da Geração de 45, movimento de reação estética contra o clima demolidor e anarquista da primeira fase do Modernismo, reivindicando uma volta à disciplina e à ordem. Como outros poetas desta geração, Lêdo Ivo voltou a algumas formas poéticas fixas, como o soneto, mas conservando-se livre e marcadamente pessoal. Fixou uma fisionomia forte e própria, com pleno domínio das suas técnicas e da linguagem. Para ele, a poesia é uma invenção das suas palavras, "uma operação verbal destinada a ocultar a vida pessoal, gerando uma mitologia particular que substitui a verdade trivial da existência". Esta sua qualidade foi reconhecida pelos críticos. Wilson Martins, por exemplo, escreveu que "ao lado da capacidade emocional, o Sr. Lêdo Ivo possui como poucos em nossa literatura contemporânea a facilidade de reunir estranhamente suas palavras, despertando efeitos novos, revelando belezas desconhecidas, enriquecendo a capacidade de expressão da língua". A atividade criadora do poeta, abundante e impetuosa, fez com que sua obra, já durante sua juventude, atingisse uma dimensão que outros só alcançam na maturidade.Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, saíram várias coletâneas de poemas de Lêdo Ivo, entre as quais La imaginaria ventana abierta, Oda al crepúsculo, Las pistas e Las islas inacabadas. Em Lima, Peru, foi editada uma antologia, Poemas, e na Espanha saiu a antologia La moneda perdida.Obras: As imaginações, poesia (1944); Ode e elegia, poesia (1945); As alianças, romance (1947); Acontecimento do soneto, poesia (1948); O caminho sem aventura, romance (1948); Ode ao crepúsculo, poesia (1948); Cântico, poesia (1949); Linguagem, poesia (1951); Lição de Mário de Andrade, ensaio (1951); Ode equatorial, poesia (1951); Um brasileiro em Paris e O rei da Europa, poesia (1955); O preto no branco, ensaio (1955): A cidade e os dias, crônicas (1957); Magias (contendo: Os amantes sonoros), poesia (1960); O girassol às avessas, ensaio (1960); Use a passagem subterrânea, contos (1961); Paraísos de papel, ensaio (1961); Uma lira dos vinte anos, reunião de obras poéticas anteriores (1962); Ladrão de flor, ensaio (1963); O universo poético de Raul Pompéia, ensaio (1963); O sobrinho do general, romance (1964); Estação central, poesia (1964); Poesia observada, ensaios (1967); Finisterra, poesia (1972); Modernismo e modernidade, ensaio (1972); Ninho de cobras, romance (1973); O sinal semafórico, reunião de sua obra poética, desde As imaginações até Estação central (1974); Teoria e celebração, ensaio (1976); Alagoas, ensaio (1976); Confissões de um poeta, autobiografia (1979); O soldado raso, poesia (1980); A ética da aventura, ensaio (1982) A noite misteriosa, poesia (1982); A morte do Brasil, romance (1984); Calabar, poesia (1985); Mar oceano, poesia (1987); Crepúsculo civil, poesia (1990); O aluno relapso, autobiografia (1991); A república das desilusões, ensaios (1995); Curral de peixe, poesia (1995). Fonte: Biblioteca Virtual



Os Pobres na Estação Rodoviária


Os pobres viajam, Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida no névoa dos horários.
Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão que
tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância!
E não têm a noção das conveniências, não sabem
portar-se em público.
O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite
escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram
malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidos nos guichês, sussurram
palavras misteriosas
e contemplam os capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida.
Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê que doem
na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos
lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.



Imagem retirada da Internet - Estação.

Joaquim Cardozo - Poema






JOAQUIM CARDOZO








Espumas do Mar


Cavalos ligeiros
De eriçadas crinas
Por que sobre as ondas
Passais sem parar?
Vencendo procelas,
Ressacas em flor,
Num fulgor de estrelas
A poeira das águas
Fazeis levantar.

Espumas do mar.

Nas serenas curvas
Da carne marinha
Há sopros, há fugas
De véus a ondular;
Vestidos de rendas...
Vestidos, mortalhas
De noivas morenas
Que em noites de lua
Virão se afogar.

Virão se afogar.

Se há fomes noturnas
Mordendo e chorando,
Lívidas, remotas
Fúrias soltas no ar,
Que os lábios do vento
Se abrindo devorem
A flor de farinha
Que as vagas maiores
Irão derramar.

Espumas do mar.

Nesse fogo verde
De cinza tão branca
Que se apure um mel

De brilho sem par;
Turbinas, moendas
No giro girando
E o açúcar nascendo
Na folha das ondas
Constante a rolar.

Constante a rolar.

Sobre os seios mansos
Das baías claras
Em puro abandono
Não hei de ficar;
Saudades das ilhas,
Amor dos navios,
Segredo das águas
Nas barras dos rios
Irei desvendar.

Espumas do mar.

Em mares incertos
Irei navegar;
E direi louvores
Às velas latinas
Por bem velejar;
Louvores direi
Aos lírios de sal
E às vozes dos búzios
Que sabem cantar.

Que sabem cantar.

Teu rosto esqueci,
Teus olhos? Não sei...
Da face marcada
O espelho quebrei
De muito sonhar;
Nos laços retidos
Das águas profundas
Tesouros perdidos
Quem há de encontrar?
Espumas do mar.

Imagem retirada da Intenet - Espuma

Joaquim Cardozo - Poema







JOAQUIM CARDOZO








O Relógio


Quem é que sobe as escadas
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com uma perna de pau?

Quem é que tosse baixinho
Na penumbra da ante-sala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?

Por que dois vermes sombrios
Passando na face morta?
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?

Da velha parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.

Um punhal feriu o espaço...
E o alvo sangue a gotejar;
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.

Todos os grilos calaram
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com sua capa vazia.

O tempo enfim cristaliza
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do seu cristal.
No tempo pulverizado
Há cinza também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.




Imagem retirada da Internet: Relógio.

Joaquim Cardozo - Poema



JOAQUIM CARDOZO




Chuva de caju



Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Teresa ou Maria.


Imagem retirada da Internet: Caju.

Joaquim Cardozo - Poema






JOAQUIM CARDOZO





Joaquim Cardozo. Poeta, dramaturgo, engenheiro calculista. Nasceu no Recife em 26 de agosto de 1897 Grande estudioso e conhecedor da matemática, em cujo domínio penetrou com grande sensibilidade poética, inovou os métodos tradicionais do cálculo estrutural. Viabilizou, assim, a execução de obras complexas da arquitetura moderna, como as de Oscar Niemeyer. Calculou, para o arquiteto, as obras do Conjunto Pampulha, em Minas e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, a Catedral, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, entre outras. Publicou os seguintes livros: Poemas (1947); Pequena antologia pernambucana (1948); Signo Estrelado (1960); Coronel de Macambira (1963); De uma noite de festa (1971); Poesias Completas (1971); Os anjos e os demônios de Deus (1973 );O capataz de Salema, Antonio Conselheiro, Marechal, boi de carro (1975); O interior da matéria (1976); Um livro aceso e nove canções sombrias (1981, póstumo). Faleceu em Olinda em 4 de novembro de 1978.



Menina


Os teus olhos de água,
Olhos frios e longos,
Esta noite penetraram.
Esta noite me envolveram.

Bem querida madrugada...

Olhos de sombra, olhos de tarde
Trazem miragens de meninas...
Bundas que parecem rosas.

Sob o caminho de muitas luas
O teu corpo floresceu.



Imagem retirada da Internete - Olho.

Luiz de Aquino - Poema



Luiz de Aquino




Luiz de Aquino Alves Neto nasceu em Goiás, em 1945. Estudou no Rio de Janeiro e em Goiânia, onde reside. Graduado em Geografia pela Universidade Católica de Goiás. Poeta, contista, cronista, é autor de muitos livros. Membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Goiana de Letras e do Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro.



VIDA




A força da corda

não força a sorte

nem corta o cachaço.


Na força da corda

o corte da forca

não solta o sanhaço.


Na lida e no eito

a liça e o feito

enfeitam o que faço.


No peito, o cio,

a vida no fio

que escorre frio

e morre no leito.




In. Antônio Miranda

Foto by Sinésio Dioliveira - Poeta - Todos os Direitos reservados.

Brasigóis Felício - Poema





BRASIGÓIS FELÍCIO




Brasigóis Felício nasceu em Aloândia (Go) em 1950. Tem 20 livros publicados, entre obras de poesia, conto, romance, crônica e crítica literária. Em sua bibliografia destacam-se Hotel do tempo, poesia, (Editora Civilização Brasileira, l982); Monólogos da Angústia, contos, (Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos), Diários de André, romance censurado e apreendido em 1976, por ordem do ex-ministro da Justiça, Armando Falcão; Viver é devagar, crônicas, l998, Literatura Contemporãnea em Goiás, crítica literária, O tempo dos homens sem rosto, poesia, Editora Estação Liberdade, e Memória da solidão, contos, Coleção Karajá, da Agência Goiana de Cultura. Trabalhou, como repórter e redator, nos jornais Cinco de Março, O Estado de Goiás, Revista Leia Agora, Revista Centro Oeste, O Top News. Em O Popular, onde atuou como repórter e redator do Caderno 2, durante 12 anos seguidos, iniciou sua carreira de cronista. Neste jornal assina, há oito anos, uma crônica semanal, na seção Crônicas & Outras Histórias. É detentor de dezenas de premiações, em nível regional e nacional, e integra antologias de contos e poemas publicadas no Brasil e no exterior. É membro da Academia Goiana de Letras, UBE-GO e Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Sobre sua obra em prosa e poesia já se pronunciaram renomados críticos e estudiosos de literatura. Na condição de jornalista e crítico de arte tem acompanhado, com reportagens e textos críticos, a movimentação das artes plásticas em Goiás, desde a década de 80. Escreveu textos críticos e apresentações para catálogos de exposições de artistas como Siron Franco, Antonio Poteiro, Maria Guilhermina, Iza Costa, D.J. Oliveira, Omar Souto, Sanatan, Enéas Silva, Né Luiz, Sival, e muitos outros.




ALMA ATLÂNTICA


Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar.
(Paulinho da Viola)


O mar navega o Ser,
nas tempestades
da palavra incendiada.
O poeta navega a esmo
no mar de dardos
de seus atos insensatos.
Em que oceano aceso
navega o poeta errante
na singradura do instante?
Uma vida morta
não tece a manhã
no sol do Ser.
Se não sou o mar
em eterna luta
e contradição,
eu me estanco
no pântano da mornidão.
Eu só desejo
amar no mar
o insondável
a revelar-se
em ritual de ser
limite e vastidão.
Amar no mar
que em tudo existe
a parte grande
da minha alma Atlântica



Imagem retirada da Internet: Atlântico

Francisco Perna Filho - Poema




Francisco Perna Filho




O poema, a seguir, é uma homenagem que faço aos meus grandes amigos/irmãos: Valdivino Braz e Sinésio Dioliveira. Este ano, como estou morando em Palmas, não passamos os nossos aniversários juntos, como sempre o fazemos. Portanto, esta é uma forma de comemorarmos, de matarmos um pouco a saudade. Na fotografia, estou ladeado pelos dois: à esquerda, Valdivino; à direita, Sinésio. A foto faz parte do Álbum de fotos do Orkut do amigo Sinésio, e foi tirada num momento muito agradável, no Bar do Chaguinha, em Goiânia.


DE HOMENS E BARCOS


Os homens, naquele bar,

falaram de rios e mulheres

e riram dos seus feitos,

de suas histórias e amores,

sonharam lonjuras e amavios

e navegaram em olhos e dentes tão perfeitos

que chegaram a entender o vazio dos homens e das garrafas.

Sorveram o momento

e se alimentaram de boas palavras.

Não sabiam muito a respeito do amor,

por isso - sobreviveram.



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