Foto by Francisco Perna Filho: Paulinho Pataxó, Porto Seguro-Brasil/2006 |
AGONIA
Morro a morte
mais longa,
a espantosa morte
de um continente.
Morro há séculos
no corpo dos povos
exterminados.
O coração lavrado
pelo fogo
dos bandeirantes,
bugreiros,
caçadores de escravos.
Sou a boca aberta de milhões,
grito de homens sem armas,
ferida sangrando
na carne da História.
Dentes cerrados,
afio a flecha
a fogo e fúria.
Retorno à terra
- alma de meu povo -,
sem paz,
Com as armas do meu uso
defendo sua memória
enterrada.
Retorno à terra
e convoco os ossos
dos guerreiros degolados
EMANCIPADOS
pelo fogo do Arcabuz!
Retorno ao coração da Terra
e dele retiro minhas armas,
o braço,
a borduna,
o canto dos mortos.
Levanto-me,
a corda dos arcos
retesada,
o corpo das lanças
refundido,
sem descanso avançam
os portadores do fogo.
1978
(Este poema dedicado aos povos indígenas do Continente foi escrito durante
a Campanha contra a falsa EMANCIPAÇÃO dos Povos Indígenas do Brasil).
In. Inventar o fogo. Goiânia:(não consta o nome da editora)1985, p.54-55.
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