Ismael Nery (1900-1934) |
Corrente contínua
Decifremos o código da Criação.
Há um telégrafo surdo
De rosa a rosa, de pássaro a pássaro, de estrela em estrela.
Assaltam-me todos os sonhos
Que existiram desde o princípio do tempo.
Meus braços acolhem migrações de sereias.
Sou um campo onde se decide a sorte dos fantasmas.
Não me podes dispensar, crescimento do mito:
É preciso continuar a trama fluida
Pela qual Lilith, Ariadna, Morgana receberão o alimento.
Vinde beber no meu peito,
Cavaleiros andantes e volantes deste século,
Mulheres sem asilo, corações mutilados, Antígona.
Ó vós todos que temeis a força da matéria,
Comparsas de ópera, musas desprezadas dos poetas,
Nuvens anônimas: procurai minha sede.
In. Metamorfoses
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