Thiago de Mello - Poema


Os astros íntimos


Consulto a luz dos meus astros, 
cada qual de cada vez. 
Primeiro olho o do meu peito: 
um sol turvo é o meu defeito. 
A minha amada adormece 
desgostosa do que sou: 
a estrela da minha fronte 
de descuidos se apagou. 

Ela sonha mal do rumo 
que minha galáxia tomou. 
Não sabe que uma esmeralda 
se esconde na dor que dou. 

A cara consigo ver, 
sem tremor e sem temor, 
da treva engolindo a flor. 
Percorre a mata um espanto. 

A constelação que outrora 
ardente cruzava o campo 
da vida, hoje mal demora 
no fulgor de um pirilampo. 

Mas vale ver que perdura 
serena em seu resplendor, 
mesmo de luz esgarçada, 
a nebulosa do amor.




Barreirinha, Ponta da Gaivota, 97
Imagem retirada da Internet: sistema solar

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