III
Do poema nada nos resta
a não ser essa viagem
rumo aos mares,
esse gosto de naufrágio
ao findar das paixões,
esse astrolábio partido.
A leitura do poema,
peixe cego, barco amputado,
nada nos ensina,
em nada modifica
a força das marés.
Rastro de espuma
na pele dos acasos,
o poema finca suas âncoras
no sal, na eternidade,
onde nossas ausências
ardem o grito dos corais.
O poema é nudez precária,
procela sem ventos, sem nuvens.
Quando nele adormecemos,
acordamos com os ossos fraturados,
vergastados pelas maresias.
O poema é tão inútil
quanto o mar ao fim da tarde.
Por isso seu esplendor é límpido
como a beleza da morte.
Do novo livro de poemas Celebração das marés
Imagem retirada da Internet: Astrolábio
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