RECEITA
Tome a palavra suja,
"cabeluda" e com c'aspas,
essa que tem açúcar
no sangue, e sobretaxa.
Tome a que, sendo escrava
da tribo e do tributo,
mostra no corpo as marcas
de lacre, logro e lucro.
Pode ser a de baixo
calão, a manteúda,
como opção, como cágado,
essa que se disputa
nas feiras, que é falada,
que é falida e que gruda,
tome a palavra chata,
tome a palavra chula
e bote tudo às claras
e gema e até misture
coisas de corpo e alma,
de vida e de cultura
e leve ao forno e passe
a forma na gordura,
depois coma e disfarce
os bigodes da gula.
In. Arte de Amar. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1977
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