hemisférios
existia uma face
que comigo vivia
ostentava, fingia
e bebia demais
por trás
doutra face
apartada
(que era minha face, também hemisfério,
do homem sério que sou demais)
voltada às coisas
que a incoerência faz
o mundo e as guerras, a fome, a sede
eu numa face que bebia demais
só que a noite tirou-me o sono
e no hemisfério do abandono
que minha outra face
desfaleceu e refletiu
esse mundo que verdades esconde demais
temi que esta face
tomasse a outra face
e eu passasse a viver
de disfarces demais
minhas histórias
quando as conto desconto as reticências
e me abrevio
porque somente entende a mesma coisa
quem coisa igual se revelou
e é bom que eu veja neste instante
o quanto viajante ainda sou
desmontando a tenda, resumindo a lenda
cantando o estribilho
que volta sempre
ao mesmo lado que nem sei se estou
é duro arder na onda infiel dos dias
tramar fazer interessar as cenas
ratificar, se desculpar, rever-se
nos mesmos fiascos das
razões pequenas
tiveram todos os mesmos dilemas
sofreram o tanto ou mais que as pequenas razões
destas pequenas glórias
e todos não vivem a repetir memórias
repisar as delusões e o engodo
- Imagem retirada da Internet: uma parte
de reprisar sempre as mesmas histórias
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