Designação
As coisas têm vida própria
quando ganham nome.
Não importa, se os símbolos
nos chamam. E só na porta
dos sentidos é que nos amam.
E o tempo come devagar
em nossa mão.
E foi um homem
que desenhou no bojo
da caverna, búfalos,
plantas, frutos,
ou um trovão,
indo escrevendo
sonhos.
E o umbral desconhecido
é o de um menino
com as vozes
que o guiam.
Tremem as pernas
por se moverem
atrás, adiante,
quando idiomas
vou falando
e jamais cedo
aos genitivos.
Só ao amor
chegando.
Guerras, secas,
tempestades:
as coisas têm
a idade
que bradamos.
E antes que envelheça,
estrangeiro,
medito sobre a areia.
E olho no oceano
as cheias e o peixe
que apanhei
com afiada faca
de uma estrela.
Comer, dormir
no vale.
E a descoberta
do fogo
ao bater
no seixo
o seixo.
E a centelha
da fome.
E procurei
meu povo.
Até ao abandono.
Ou aborrecer as coisas
para polir as sombras
e me sentir humano.
E com troncos
naveguei.
Fui sobre
a tromba da maré.
Atravessei
perigos,
tribos,
vínculos
e alcancei
a rocha
do equilíbrio.
E prossegui adiante,
bebendo
numa fonte,
à saciedade.
E diante da memória
e seu ruído tão moroso
de horas, vejo que ela
sabe de que lado
semear ou conter
a explosão
de olores, hábitos.
E a memória de um
é de outro e outro.
E se assemelha
a uma teia o mundo.
Sem revés.
E as coisas se revelam
quando lhes
damos nomes.
In. Revista Poesia Sempre, nº 30, Ano 15. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2009, p.111-113.
Imagem retirada da Internet: Memória.
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