CANTIGAS DE ANDAR JUNTO
De onde ainda nem chegamos
acende o zelo de ser único
na vontade de todos.
Ver de frente
o que acende
para espalhar mais alvos.
Como cada um
ser junto na astúcia de entender
caminho e rumo.
Cada estreito nosso
há de alcançar os vãos
num fazer de espalhar lugares.
E onde chegar
serão árvores nossas mãos
de uma raiz só.
Dessa raiz que rompe
que remove o lugar
e que aprofunda em longes .
Como horizonte fosse igual andar
sustentamos-nos em cada olhar acendido
em cada vontade de alcançar-se.
Assim os gestos vão gestando os vãos
como meninos nas varandas
olhando para além dos muros.
Posto que aqui sempre é tempo
de sonhar para mais
o que seja regar e brotar.
Segue assim espalhando luz
o que vela
e o que singra.
Nem parece mesmo longe
o que o caminho estreita
pelo carecer sincero de ir.
Vê que é grande uma manhã
nelas duram muitas claridades
apesar de ímpares.
Uma manhã tem feitio de bandeira
a nos significar
em pares.
Se a gente vai
nossa bandeira é sempre frente
onde se vai chegar.
É nossa vontade quem chega primeiro
quando o caminho nos junta
no continuar andando.
Mesmo o grande dos nossos estreitos
é um caminho só
nas mãos de nosso rumo.
e arranjar um diverso inesperado
paciência é remédio absoluto
para o encontrar-se.
Esses artifícios de andar junto
carecem mesmo paciência
e as vezes alguma ciência.
Até o êrmo pode ser perto
se o caminho é certo
no rumo do junto.
E quando menos parece
aparece outro hoje
e a gente toma um novo mesmo tino.
É assim mesmo diverso
o caminhar do esperança
dia ensina dia aprende.
No fundo esperança é vontade
de andar junto
ainda que distante.
Tecendo fios longos
numa mesma renda
a gente entende os muitos.
Pois o tempo de recomeçar
é um tempo inteiro
ainda que também único.
Como tempo de flor
chamando o dia para abrir
aqui o zelo é quem governa o caminho.
Pois se o dia abrir com zelo
é certa a flor
visitando nosso rumo.
Ao menos aos pares
é permitido combinar
o único no diverso.
Combinar que a estrada segue
e tem gente esperando
para receber nosso passo.
Passar o passo é quase um parto
tem merecimento de mutiplicar-se
como aquelas manhãs paridas.
É que os limites
as fronteiras
são também caminhos.
E o caminho mais árduo
é o rumo de dentro da gente
que precisa chegar no outro.
O outro é quem nos sustenta
é quem nos faz caminho
é quem nos caminha.
Segue cada um
como caravana de todos
para se juntar num canto da chegada.
Toda porta vai se abrir
toda janela vai espiar
cada chegar desse rumo.
Rumo ungido em singelo
em simples
que se agradece como amém.
Recebe esse simplicidade
que todo chegar encerra
e que espiga de boa nova.
A gente que anda junto
sempre está pronto para acender
uma nova chama de guia.
Deixar a chama nos lumiar
para seguir junto
nas horas de sós.
Vê que seus olhos são meus
e busca um entender em sede
pois os ávidos são sempre fecundos.
Como é infinito o andar juntos
a cantiga junta sempre se afina
pois cada passo o mesmo compasso.
Para quem escuta o canto do junto
se distingue o passarinho pelo olhar
o canto é só artifício de beleza.
A gente lembra da gente
quando nos dão motivo de andar
e reconhece o quanto falta pra chegar.
Se chegar a hora de fazer outro ir
o que se deixa vai com a gente
o olhar de quem fica vai com a gente.
Nosso rumo é mesmo preso ao sol
que precisa estar sempre estendido
para romper as nódoas.
Se nosso andar dispersar
a lição das pontes entre nós
é capaz de novamente nos juntar.
Riso é mais que alegria entre nós
é o remédio que nos faz iguais
num caminho de diferenças.
In.Saúde da Familia: um retrato. Brasília: Ministério da Saúde,2009
Muito bom. Como já fiz parte do PSF e sei muito bem a respeito do que enfrentamos no dia a dia na tentativa de mudança de hábitos da população, achei maravilhoso o enfoque das lutas que os profissionais enfrentam diariamente.
ResponderExcluirChico, que belo poema! Você conhece o Célio Pedreira? Ele conhece a lição das palavras que geram poemas:
ResponderExcluir"Se nosso andar dispersar
a lição das pontes entre nós
é capaz de novamente nos juntar."