André Augusto Passari - Poema


Devaneio


Tenho sobre a minha mesa
Um crânio, um feto e um cálice de vinho
Sobre os meus pensamentos
Uma ideia, uma esperança e um sonho tinto

Trago no rastro da vida
Uma dor, um amor e um martírio
E deixo em rascunhos perdidos no tempo
Minha história, meu ideal e meu delírio

Agora bebo o cálice de vinho
E a cada gole que saboreio
Fico a refletir sozinho

Sou este feto, sou este crânio
Que tão depressa passou pela vida
Sem ter vivido tudo o que queria

Sou este feto, sou este crânio
Cuja morte só não foi pior do que a loucura
De ter amado este mundo de amargura

In.“Fragmentos do Tempo”, editora Artepaubrasil
Imagem retirada da Internet: Crânio

André Augusto Passari - Poeta


Madalena Hashimoto. Das Mil Faces, 136/150, cologravura

Ser poeta pra quê?



Quisera ser vários poetas ao mesmo tempo
Várias vozes, vários eus
E assim não saber quem se perdeu

Sentimentos maltratados, esquecidos e
por isso maltratados e tão merecidos

Ser mil faces e nenhuma
Desejos honestos? Ideais puros?
O que são essas coisas?

Escrever mil versos de mil sentimentos
E não sentir nenhum
Mas lembrar de todos de cada um
Com calafrios e arrependimentos

Mundo do meu desmundo
De um pedaço de mim que se perdeu
Onde foi que ficou o meu eu
Em qual buraco profundo?

Apenas um verso inútil
Trocar de camisa, pôr outro tênis
Assistir a outro filme, sentir-se firme
Trocar de perfume e de amigos

Apenas um verso inútil
Há tantos canais de tevê
Ser poeta pra quê?


In. Fragmentos do Tempo”, editora Artepaubrasil


Sobre o autor:
André Augusto Passari é Médico Psiquiatra e Escritor. Natural de Taguatinga - DF, mora em Ribeirão Preto.

Adalgisa Nery - Poema


 Adalgisa Nery por Ismael Nery

Poesia Entre o Cais e o Hospital


Geme no cais o navio cargueiro
No hospital ao lado, o homem enfermo.
O vento da noite recolhe gemidos
Une angústias do mundo ermo.
Maresia transborda do mar em cansaço,
Odor de remédios inunda o espaço.
Máquina e homem, ambos exaustos
Um, pela carga que pesa em seu bojo
Outro, na dor tomando o seu corpo.
Cais, hospital: Portos de espera
E começo de fim da longa viagem.
Chaminés de cargueiros gritando no mar,
Garganta do homem em gemidos no ar.
No fundo, o universo,
O mar infinito,
O céu infinito,
O espírito infinito.
Neblinados em tristezas e medos
Surgem silêncios entre os rochedos.
Chaminés de cargueiros gritando no mar
E a garganta do homem em gemidos no ar.

Adalgisa Nery - Poema

 
  Poema da Amante

 
    Eu te amo
    Em todos os ventos que cantam,
    Em todas as sombras que choram,
    Na extensão infinita dos tempos
    Até a região onde os silêncios moram.
    Eu te amo
    Em todas as transformações da vida,
    Em todos os caminhos do medo,
    Na angústia da vontade perdida
    E na dor que se veste em segredo.
    Eu te amo
    Em tudo que estás presente,
    No olhar dos astros que te alcançam
    E em tudo que ainda estás ausente.
    Eu te amo
    Desde a criação das águas,
    desde a idéia do fogo
    E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
    Eu te amo perdidamente
    Desde a grande nebulosa
    Até depois que o universo cair sobre mim
    Suavemente.



Imagem retirada da Internet: Adalgisa Nery

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