RIO QUENTE E EU
Na minha terra existe um rio.
Pequeno curso, pequeno caudal
que deságua límpido
nas turvas águas do Piracanjuba.
Corre alegre, borbulhante,
mantendo constante
a água clara
a trinta e sete graus.
Persistente, meu pequeno Rio Quente!
Foi ele a imagem primeira
do que chamei de rio.
Mas não é ele, ainda,
um rio de verdade. É ribeirão;
e na cidade (pouco mais que vila),
o Córrego de Caldas,
miúdo e manso: hospitaleiro
para o banho, farto de lambaris
de ingênuas pescarias.
Rio mesmo
é o Corumbá, violento e forte.
Vem do norte
e reforça o Paranaíba,
que nasce em Minas.
Rios são assim, feito a vida. Tímidos
primeiro, crescentes depois.
E viram grandes
quando grandes somos também
tal como grande nos parece o mundo.
Saudade de ser córrego:
hospitaleiro e manso.
In. Luiz de Miranda
Foto by Ricardo Borges Gonçalves