Hélverton Baiano - Poema



HÉLVERTON BAIANO




Hélverton Valnir Neves da Silva, conhecido intimamente como Hélverton Baiano, nasceu em Correntina, interior da Bahia, em março de 1960 e, após concluir o primário e o ginásio em sua terra natal, mudou-se para Goiânia aos 15 anos de idade. De lá para cá, formou-se em jornalismo e fez especialização em português/redação. Além de ser um dos homens que cuidam da agenda do governador Alcides Rodrigues, Baiano deixa correr pelas veias os seus sentimentos de poeta e escritor, o que já lhe proporcionou inúmeros prêmios em sua trajetória literária. Recentemente lançou o livro Paraíso Profano, do qual transcrevo o poema a seguir:


MORRER



Morrer é tão repentino
Às vezes é mais que um século
Morrer é a eternidade
Do que é vento e mistério.

Morrer é tanto lamento
No tanto que o rumo é incerto
Quem vive não vê por dentro
O que a morte tem de/certo.

Morrer, amigo, é propriedade
Em tudo e apenas de quem morre
Pois só o morto na verdade
Sabe o risco que ele corre.

Morrer é tão bom ou ruim
Que não se pode medir
Porque só quem morre sabe
A morte seu tanto sentir.




In. Paraíso Profano. Goiânia: ND Editora, 2009,p.143.
Foto by Kais Ismail - Pensando - imagem retirada da Internet.

Sinésio Dioliveira - Poema









POEMA MUDO



Eu quis fazer um poema àquela azaleia.

Diante de tanta beleza

o poema ficou mudo

perdeu a voz

se sentiu pequeno.

A imagem vai além das mil palavras.

Possuo poucas

e elas não têm as cores da flor.

O melhor é o poema ficar calado

existir apenas dentro do poeta.


Foto by Sinésio Dioliveira - Azaleia - Todos os Direitos reservados.

Lêdo Ivo - Poema


LÊDO IVO




Lêdo Ivo, jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta, nasceu em Maceió, AL, em 18 de fevereiro de 1924. Eleito em 13 de novembro de 1986 para a Cadeira n. 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. É filho de Floriano Ivo e de Eurídice Plácido de Araújo Ivo. Casado com Maria Lêda Sarmento de Medeiros Ivo, tem o casal três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.Estudou no Colégio Americano Batista, no Grupo Escolar D. Pedro II e no Colégio Diocesano de Alagoas. Transferindo-se para o Recife em 1940, estudou no Instituto Carneiro Leão e passou a colaborar na imprensa local e a conviver com um grupo literário de que fazia parte Willy Lewin, o qual haveria de exercer grande influência em sua formação cultural. Dedicou-se à vida literária, participando do I Congresso de Poesia do Recife em 1941. De volta a Maceió, concluiu o curso complementar no Liceu Alagoano. Em 1943, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil e passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional. Foi redator da Tribuna da Imprensa e da revista Manchete, colaborador de O Estado de São Paulo e editorialista do Correio da Manhã.Estreou na literatura em 1944, com o livro de poesias As imaginações. No ano seguinte, publicou Ode e elegia, distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o primeiro de uma série de prêmios que Lêdo Ivo irá obter, nos anos subsequentes, com a publicação de obras de poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Em 1949, proferiu, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a conferência "A geração de 1945". Formou-se naquele ano pela Faculdade Nacional de Direito, mas nunca advogou, preferindo continuar exercendo o jornalismo.No início de 1953, foi morar em Paris. Visitou vários países da Europa e, em agosto de 1954, retornou ao Brasil, voltando às atividades literárias e jornalísticas. Em 1963, a convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses (novembro e dezembro) pelos Estados Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.Sua obra de poesia e de prosa foi amplamente reconhecida e premiada. Seu romance de estréia As alianças (1947) mereceu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Ao seu livro de crônicas A cidade e os dias (1957) foi atribuído o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Em 1973, foram conferidos a Finisterra (poesia) o Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. O seu romance Ninho de cobras foi distinguido com o Prêmio Nacional Walmap. Em 1974, Finisterra recebeu o Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Seu livro de memórias Confissões de um poeta (1979) mereceu o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. A seu livro de ensaios A ética da aventura foi conferido, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela obra poética. Eleito "Intelectual do Ano de 1990", recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Ao seu livro de poemas Curral de peixe (1995) o Clube de Poesia de São Paulo atribuiu o Prêmio Cassiano Ricardo.Lêdo Ivo é uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira, notadamente na poesia. A crítica literária o insere como o poeta mais representativo da Geração de 45, movimento de reação estética contra o clima demolidor e anarquista da primeira fase do Modernismo, reivindicando uma volta à disciplina e à ordem. Como outros poetas desta geração, Lêdo Ivo voltou a algumas formas poéticas fixas, como o soneto, mas conservando-se livre e marcadamente pessoal. Fixou uma fisionomia forte e própria, com pleno domínio das suas técnicas e da linguagem. Para ele, a poesia é uma invenção das suas palavras, "uma operação verbal destinada a ocultar a vida pessoal, gerando uma mitologia particular que substitui a verdade trivial da existência". Esta sua qualidade foi reconhecida pelos críticos. Wilson Martins, por exemplo, escreveu que "ao lado da capacidade emocional, o Sr. Lêdo Ivo possui como poucos em nossa literatura contemporânea a facilidade de reunir estranhamente suas palavras, despertando efeitos novos, revelando belezas desconhecidas, enriquecendo a capacidade de expressão da língua". A atividade criadora do poeta, abundante e impetuosa, fez com que sua obra, já durante sua juventude, atingisse uma dimensão que outros só alcançam na maturidade.Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, saíram várias coletâneas de poemas de Lêdo Ivo, entre as quais La imaginaria ventana abierta, Oda al crepúsculo, Las pistas e Las islas inacabadas. Em Lima, Peru, foi editada uma antologia, Poemas, e na Espanha saiu a antologia La moneda perdida.Obras: As imaginações, poesia (1944); Ode e elegia, poesia (1945); As alianças, romance (1947); Acontecimento do soneto, poesia (1948); O caminho sem aventura, romance (1948); Ode ao crepúsculo, poesia (1948); Cântico, poesia (1949); Linguagem, poesia (1951); Lição de Mário de Andrade, ensaio (1951); Ode equatorial, poesia (1951); Um brasileiro em Paris e O rei da Europa, poesia (1955); O preto no branco, ensaio (1955): A cidade e os dias, crônicas (1957); Magias (contendo: Os amantes sonoros), poesia (1960); O girassol às avessas, ensaio (1960); Use a passagem subterrânea, contos (1961); Paraísos de papel, ensaio (1961); Uma lira dos vinte anos, reunião de obras poéticas anteriores (1962); Ladrão de flor, ensaio (1963); O universo poético de Raul Pompéia, ensaio (1963); O sobrinho do general, romance (1964); Estação central, poesia (1964); Poesia observada, ensaios (1967); Finisterra, poesia (1972); Modernismo e modernidade, ensaio (1972); Ninho de cobras, romance (1973); O sinal semafórico, reunião de sua obra poética, desde As imaginações até Estação central (1974); Teoria e celebração, ensaio (1976); Alagoas, ensaio (1976); Confissões de um poeta, autobiografia (1979); O soldado raso, poesia (1980); A ética da aventura, ensaio (1982) A noite misteriosa, poesia (1982); A morte do Brasil, romance (1984); Calabar, poesia (1985); Mar oceano, poesia (1987); Crepúsculo civil, poesia (1990); O aluno relapso, autobiografia (1991); A república das desilusões, ensaios (1995); Curral de peixe, poesia (1995). Fonte: Biblioteca Virtual



Os Pobres na Estação Rodoviária


Os pobres viajam, Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida no névoa dos horários.
Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão que
tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância!
E não têm a noção das conveniências, não sabem
portar-se em público.
O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite
escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram
malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidos nos guichês, sussurram
palavras misteriosas
e contemplam os capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida.
Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê que doem
na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos
lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.



Imagem retirada da Internet - Estação.

Joaquim Cardozo - Poema






JOAQUIM CARDOZO








Espumas do Mar


Cavalos ligeiros
De eriçadas crinas
Por que sobre as ondas
Passais sem parar?
Vencendo procelas,
Ressacas em flor,
Num fulgor de estrelas
A poeira das águas
Fazeis levantar.

Espumas do mar.

Nas serenas curvas
Da carne marinha
Há sopros, há fugas
De véus a ondular;
Vestidos de rendas...
Vestidos, mortalhas
De noivas morenas
Que em noites de lua
Virão se afogar.

Virão se afogar.

Se há fomes noturnas
Mordendo e chorando,
Lívidas, remotas
Fúrias soltas no ar,
Que os lábios do vento
Se abrindo devorem
A flor de farinha
Que as vagas maiores
Irão derramar.

Espumas do mar.

Nesse fogo verde
De cinza tão branca
Que se apure um mel

De brilho sem par;
Turbinas, moendas
No giro girando
E o açúcar nascendo
Na folha das ondas
Constante a rolar.

Constante a rolar.

Sobre os seios mansos
Das baías claras
Em puro abandono
Não hei de ficar;
Saudades das ilhas,
Amor dos navios,
Segredo das águas
Nas barras dos rios
Irei desvendar.

Espumas do mar.

Em mares incertos
Irei navegar;
E direi louvores
Às velas latinas
Por bem velejar;
Louvores direi
Aos lírios de sal
E às vozes dos búzios
Que sabem cantar.

Que sabem cantar.

Teu rosto esqueci,
Teus olhos? Não sei...
Da face marcada
O espelho quebrei
De muito sonhar;
Nos laços retidos
Das águas profundas
Tesouros perdidos
Quem há de encontrar?
Espumas do mar.

Imagem retirada da Intenet - Espuma

Joaquim Cardozo - Poema







JOAQUIM CARDOZO








O Relógio


Quem é que sobe as escadas
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com uma perna de pau?

Quem é que tosse baixinho
Na penumbra da ante-sala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?

Por que dois vermes sombrios
Passando na face morta?
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?

Da velha parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.

Um punhal feriu o espaço...
E o alvo sangue a gotejar;
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.

Todos os grilos calaram
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com sua capa vazia.

O tempo enfim cristaliza
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do seu cristal.
No tempo pulverizado
Há cinza também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.




Imagem retirada da Internet: Relógio.

Joaquim Cardozo - Poema



JOAQUIM CARDOZO




Chuva de caju



Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Teresa ou Maria.


Imagem retirada da Internet: Caju.

Joaquim Cardozo - Poema






JOAQUIM CARDOZO





Joaquim Cardozo. Poeta, dramaturgo, engenheiro calculista. Nasceu no Recife em 26 de agosto de 1897 Grande estudioso e conhecedor da matemática, em cujo domínio penetrou com grande sensibilidade poética, inovou os métodos tradicionais do cálculo estrutural. Viabilizou, assim, a execução de obras complexas da arquitetura moderna, como as de Oscar Niemeyer. Calculou, para o arquiteto, as obras do Conjunto Pampulha, em Minas e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, a Catedral, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, entre outras. Publicou os seguintes livros: Poemas (1947); Pequena antologia pernambucana (1948); Signo Estrelado (1960); Coronel de Macambira (1963); De uma noite de festa (1971); Poesias Completas (1971); Os anjos e os demônios de Deus (1973 );O capataz de Salema, Antonio Conselheiro, Marechal, boi de carro (1975); O interior da matéria (1976); Um livro aceso e nove canções sombrias (1981, póstumo). Faleceu em Olinda em 4 de novembro de 1978.



Menina


Os teus olhos de água,
Olhos frios e longos,
Esta noite penetraram.
Esta noite me envolveram.

Bem querida madrugada...

Olhos de sombra, olhos de tarde
Trazem miragens de meninas...
Bundas que parecem rosas.

Sob o caminho de muitas luas
O teu corpo floresceu.



Imagem retirada da Internete - Olho.

Luiz de Aquino - Poema



Luiz de Aquino




Luiz de Aquino Alves Neto nasceu em Goiás, em 1945. Estudou no Rio de Janeiro e em Goiânia, onde reside. Graduado em Geografia pela Universidade Católica de Goiás. Poeta, contista, cronista, é autor de muitos livros. Membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Goiana de Letras e do Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro.



VIDA




A força da corda

não força a sorte

nem corta o cachaço.


Na força da corda

o corte da forca

não solta o sanhaço.


Na lida e no eito

a liça e o feito

enfeitam o que faço.


No peito, o cio,

a vida no fio

que escorre frio

e morre no leito.




In. Antônio Miranda

Foto by Sinésio Dioliveira - Poeta - Todos os Direitos reservados.

Brasigóis Felício - Poema





BRASIGÓIS FELÍCIO




Brasigóis Felício nasceu em Aloândia (Go) em 1950. Tem 20 livros publicados, entre obras de poesia, conto, romance, crônica e crítica literária. Em sua bibliografia destacam-se Hotel do tempo, poesia, (Editora Civilização Brasileira, l982); Monólogos da Angústia, contos, (Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos), Diários de André, romance censurado e apreendido em 1976, por ordem do ex-ministro da Justiça, Armando Falcão; Viver é devagar, crônicas, l998, Literatura Contemporãnea em Goiás, crítica literária, O tempo dos homens sem rosto, poesia, Editora Estação Liberdade, e Memória da solidão, contos, Coleção Karajá, da Agência Goiana de Cultura. Trabalhou, como repórter e redator, nos jornais Cinco de Março, O Estado de Goiás, Revista Leia Agora, Revista Centro Oeste, O Top News. Em O Popular, onde atuou como repórter e redator do Caderno 2, durante 12 anos seguidos, iniciou sua carreira de cronista. Neste jornal assina, há oito anos, uma crônica semanal, na seção Crônicas & Outras Histórias. É detentor de dezenas de premiações, em nível regional e nacional, e integra antologias de contos e poemas publicadas no Brasil e no exterior. É membro da Academia Goiana de Letras, UBE-GO e Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Sobre sua obra em prosa e poesia já se pronunciaram renomados críticos e estudiosos de literatura. Na condição de jornalista e crítico de arte tem acompanhado, com reportagens e textos críticos, a movimentação das artes plásticas em Goiás, desde a década de 80. Escreveu textos críticos e apresentações para catálogos de exposições de artistas como Siron Franco, Antonio Poteiro, Maria Guilhermina, Iza Costa, D.J. Oliveira, Omar Souto, Sanatan, Enéas Silva, Né Luiz, Sival, e muitos outros.




ALMA ATLÂNTICA


Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar.
(Paulinho da Viola)


O mar navega o Ser,
nas tempestades
da palavra incendiada.
O poeta navega a esmo
no mar de dardos
de seus atos insensatos.
Em que oceano aceso
navega o poeta errante
na singradura do instante?
Uma vida morta
não tece a manhã
no sol do Ser.
Se não sou o mar
em eterna luta
e contradição,
eu me estanco
no pântano da mornidão.
Eu só desejo
amar no mar
o insondável
a revelar-se
em ritual de ser
limite e vastidão.
Amar no mar
que em tudo existe
a parte grande
da minha alma Atlântica



Imagem retirada da Internet: Atlântico

Francisco Perna Filho - Poema




Francisco Perna Filho




O poema, a seguir, é uma homenagem que faço aos meus grandes amigos/irmãos: Valdivino Braz e Sinésio Dioliveira. Este ano, como estou morando em Palmas, não passamos os nossos aniversários juntos, como sempre o fazemos. Portanto, esta é uma forma de comemorarmos, de matarmos um pouco a saudade. Na fotografia, estou ladeado pelos dois: à esquerda, Valdivino; à direita, Sinésio. A foto faz parte do Álbum de fotos do Orkut do amigo Sinésio, e foi tirada num momento muito agradável, no Bar do Chaguinha, em Goiânia.


DE HOMENS E BARCOS


Os homens, naquele bar,

falaram de rios e mulheres

e riram dos seus feitos,

de suas histórias e amores,

sonharam lonjuras e amavios

e navegaram em olhos e dentes tão perfeitos

que chegaram a entender o vazio dos homens e das garrafas.

Sorveram o momento

e se alimentaram de boas palavras.

Não sabiam muito a respeito do amor,

por isso - sobreviveram.



Odir Rocha - Poema


Manoel Odir Rocha nasceu em Araguari - MG. É médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Curitiba), onde também cursou (sem se graduar) Sociologia e Administração Pública. Veio para o Tocantins em 1971 (quando ainda era Goiás), mais especificamente para Colinas do Tocantins, onde montou um pequeno hospital. Em Colinas, exerceu a profissão de médico até a criação do novo Estado, quando foi eleito prefeito da cidade, só que agora Colinas do Tocantins. Concluído o mandato mudou-se para Palmas, sendo secretário municipal de Ação Social e Habitação do primeiro prefeito eleito. Foi ainda suplente de Deputado Federal, Secretário Estadual de Administração, Secretário Extraordinário para Assuntos Metropolitanos. Em 1996 foi eleito prefeito de Palmas. Poeta, contista e pesquisador em História, é membro da Academia Palmense de Letras, da Academia Tocantinense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). Odir Rocha é autor de várias obras literárias, valendo destacar o livro Terracanto, do qual o poema a seguir foi transcrito.



SOLITÁRIA CUNHÃ



Solitárias bacabas no cerrado,
buritis à beira do brejo,
gameleiras frondosas.
Ipês floridos adornando a aldeia,
aglomerados em moldura graciosa.

Fumaça grafite em espiral
brotando da cumeeira da oca
num aspecto sereno
e na ausência de vento.

Sol a pino, faiscante,
com um facho muito claro
alumiando o cume das árvores,
produzindo bizarras sombras.

Folhas novas de bananeira brava
esparramadas no chão
abrigando o corpo nu,
desejoso e gracioso
da solitária cunhã.


In. Terracanto. Odir Rocha. Palmas: Kelps, 2007, p.17

Eugênio de Castro - Poema






Eugênio de Castro









SOMBRA E CLARÃO


De mãos dadas, lá vão avó e neta,
- A Saudade e a Esperança de mãos dadas! -
A neta é loira, a avó tem cãs prateadas,
Uma leva a boneca, outra a muleta.

Uma arrasta-se e a outra salta inquieta;
Aos suspiros vai uma, outra às risadas;
A avó desfia contas desgastadas,
E a neta colhe iriada borboleta.

Uma vai confiada, outra bisonha;
Uma lembra-se, triste, e outra sonha;
Leves asas tem uma, outra coxeia...

E eu, que as vejo passar, com mágoa infinda
Penso que a avó talvez já fosse linda,
E que a neta, que é linda, há de ser feia!




In.Descendo a Encosta. Obras Poéticas. Lumen, Vol. X
Imagem retirada da Internet - Lágrima.

Gabriel Nascente - Poema




Gabriel Nascente



Gabriel Nascente é o nome literário de Gabriel José Nascente. É de Goiânia (GO), onde nasceu a 23 de janeiro de 1950. Jornalista. Morou em São Paulo, apadrinhado pelo poeta Menotti Del Picchia. Autor de quase três dezenas de livros publicados, em sua maioria, poesia. Ex-presidente do Conselho Municipal de Cultura. Em setembro de 1978, a Academia Paraibana de Poesia lhe outorgou o título de “O Embaixador da Poesia Brasileira”. Conquistou, em 1996, um dos prêmios mais cobiçados de todo país, o "Cruz e Sousa de Literatura", de Santa Catarina, com o livro inédito de poemas A lira da lida. E obteve também outras premiações de âmbito nacional. Seu nome figura hoje em diversas antologias da poesia brasileira, inclusive em edição bilíngue. (Fonte: Jornal de Poesia)





75



Calem a boca,
máquinas do mundo!

Os gatos da cidade
são metais em desespero.


87


Os relógios estão comendo
a minha face.



93


Eu vi a alma da poesia
num sorriso da lama.




100


Senhor,
por que não me partes
Em fatias de pão?

Senhor,
por que não me perenizas
no caule dos trigais?


101

Já estão mortas as borboletas.
E ninguém sabe onde anda a eternidade.

O céu era o quintal
dos querubins.



In. O Pão Selvagem. Gabriel Nascente.Goiânia: Agência Goiana do Livro, 2001.

Augusto dos Anjos - Poema


Augusto dos Anjos



Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade. Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo. Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época. Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte. Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia. Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor. (Fonte: Wikipédia)




VERSOS DE AMOR



Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a...ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
a toda a boca que não prova engana.

Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!

Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.

Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.

Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!

É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne misrável
Como anda a garça acima dos açudes!

Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!

Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambicioso, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!

Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!




In. Eu e outras poesias. Augusto dos Anjos. Goiânia: Novo Tempo, 1999, p.73-74.
Imagem retirada da Internet: Michelangelo Caravaggio.

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