Purgatório
A moça colhendo a bosta do cão,
A mosca na boca da moça,
A sopa, sem mosca e sem pão,
O pão, sem mosca e sem boca.
O cão, se sentindo cuidado,
sente-se livre para borrar a calçada.
A moça, com total afeição,
contabiliza sua dura jornada.
Do outro lado, na antiga estação,
olhos cansados espiam assustados,
É o poeta esquálido, sem eira nem beira,
na fila da carne, exercitando a palavra esperança.
Desenho: caneta sobre guardanapo @franciscopernafilho
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