Dora Ferreira da Silva - Poema



Habitas meu coração:




Habitas meu coração: barbas de rei assírio
olhar de extensões alheias
a tempo e medida.
Tua voz tem asas de falcão e pousa
nas torres mais altas do meu ser
onde jamais me aventurei. É minha a tua solidão.
Sirvo-te em silêncio e às vezes
como a uma criança me apertas em teu peito:
acaricio então tua face estranho rei.
Outras vezes ouço passos ecoando
no enlace das colunas em seteiras escadas. Se grito
teu nome - és mil ressonâncias e seu eco em mim.



Fonte: Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet:falcão peregrino

Dora Ferreira da Silva - Poema


Boneca



A boneca de feltro
parece assustada com o próximo milênio.
Quem a aninhará nos braços
com seus olhos de medo e retrós?

O signo da boneca é frágil
mais frágil que o de pássaro.
Confia. Assim passiva
o vento brincará contigo
franzirá teu avental
dirá coisas que entendes
desde a aurora das coisas:
foste um caroço de manga
uma forma de nuvem
ou um galho com braços
de ameixeira no quintal.

Não temas. Solta o
corpo de feltro. Assim.
Para ser embalada nos braços
da menina que houver.



In. Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet: Blog do Guito

Francisco Perna Filho - Poema

PARAPEITO



Para mim,

par ti,

para raio,

para bunda,

para o ano que vem.

Dora Ferreira da Silva - Poema



Valsas de Esquina de Mignone



Só um pássaro
e seu peso de orvalho tocando
o chão como se foram teclas.
Passa onde a graça
ilumina a cidade de ferro
subitamente atenta a essa beleza.

Nos jardins teimam rosas
delicadamente.
Violetas africanas
salpicam de ouro
muros escuros
e as princesas purpúreas
espiam dos balcões verdes
nas paredes florescidas:
dançam pétalas
dança a vida
nos jardins contentes
não termina a partitura
que se repete
sempre.


In. Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet: orvalho

Francisco Perna Filho - Poema

DEFESA CIVIL



A defesa se viu no espelho:

uma trepidação de terra,

um desarranjo de fogo

uma combustão de lagoa.

Deu na Folha de São Paulo: livro de Ian McEwan

Sob o sol de McEwan

Chega ao Brasil novo livro de Ian McEwan , uma comédia sobre o aquecimento global

Ricardo Maldonado/EPA
O escritor britânico Ian McEwan durante o festival Hay de Cartagena, em janeiro deste ano


SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

Não é de hoje que Ian McEwan, 62, flerta com a ciência. No thriller "Amor Para Sempre" (1997), um distúrbio psiquiátrico movia a trama. Em "Sábado" (2005), o protagonista era um neurocirurgião que saía de uma determinada situação difícil graças à sua expertise.

Em seu mais recente romance, "Solar", que chega no próximo dia 6 às livrarias do Brasil, o tema é o tão falado aquecimento global.

Nada poderia soar tão na moda -e ao mesmo tempo tão chato para servir de clima (com o perdão do trocadilho) para uma obra de ficção. Mas o britânico consegue evitar parte dos lugares-comuns que o tema poderia evocar ao propor uma comédia.

"Tomar posições, engajar-se é o que primeiro ocorre às pessoas quando se fala de mudança climática. É preciso mudar isso e, antes de mais nada, entender o que está acontecendo", disse o autor em entrevista à Folha, por telefone.

O processo de aprendizado a que se propôs incluiu uma viagem ao polo Norte, a observação da atuação de cientistas e três anos de leitura sobre o assunto.

"Sempre me aplico quando vou mergulhar num tema que me é estranho. Foi assim nas obras anteriores. Por enquanto, os cientistas que leram o romance não encontraram erros e os que mandaram cartas o fizeram para elogiar, espero que siga assim."

A inspiração para o romance surgiu depois que o escritor presenciou um encontro de cientistas na Alemanha. Decidiu, então, que o protagonista de "Solar" seria um vencedor do Nobel.

"Fiquei com vontade de investigar o que está nas sombras desses grandes egos. O que se passa no lado escuro da natureza humana, especialmente no das pessoas inteligentes. Me intrigam as diferenças entre seus ideais e a realidade em que vivem."

O autor de "Amsterdã" e "Reparação" pode vir ao Brasil lançar seu romance. No momento, diz que está trabalhando numa nova obra, ainda sem título definido, e numa adaptação para as telas da "short novel" "Na Praia" (2007). O filme será dirigido por Sam Mendes e terá Carey Mulligan (de "Educação") num dos papéis principais.

Escritor satiriza discurso de cientistas e de ambientalistas

Ao construir personagem principal, McEwan quis retratar lado estúpido das pessoas muito inteligentes

Para autor, tragédia por aquecimento global é questão de tempo e Brasil pode ajudar a propor soluções

EDITORA DA ILUSTRADA

O protagonista de "Solar" é Michael Beard, um cientista cinquentão, premiado já há muito tempo por um trabalho relacionado a Einstein, quando o romance principia.

Pouco incomodado com o aquecimento global e a perspectiva de o mundo acabar, ainda assim ele integra uma comissão do governo britânico -gestão Tony Blair- dedicada a desenhar saídas para o momento crítico. Apesar de viver conquistando mulheres, o personagem é um fracassado do ponto de vista afetivo. Glutão e desleixado, vê sua quinta mulher traí-lo com um pedreiro, no melhor estilo "O Amante de Lady Chatterley".

Depois, será levado a ter uma filha à sua revelia. O que muda sua trajetória é um acontecimento inusitado. Um jovem aprendiz, que também estava tendo um caso com sua mulher, morre em um acidente em sua casa. Beard não só faz com que a tragédia pareça um crime para incriminar o pedreiro, como rouba uma ideia do rapaz relacionada ao aproveitamento de energia solar por fotossíntese artificial.

A trama se estende até 2009, quando Beard se instala no Novo México, num empreendimento de uso da luz solar.

PROTAGONISTA

McEwan concorda com as semelhanças entre Beard e Henry Perowne, o protagonista de "Sábado", mas também vê diferenças.

"Perowne via o mundo desde o alto. Beard é fraco em suas emoções. De certo modo, representa a todos nós. Tem o grande atributo de ser muito inteligente e de agir de modo muito estúpido, como muita gente", explica. O personagem de Beard é patético até comover e a narrativa anda pontuada de cenas engraçadas. Como a que relata como o pênis do personagem quase congela quando ele tem de urinar na neve.

McEwan, ainda, satiriza todo o tempo os discursos dos cientistas e dos defensores do ambiente.

TRAGÉDIA

O escritor diz não ter dúvidas de que uma tragédia se avizinha como consequência do aquecimento global.
"Não mudaremos nada apenas por sermos bonzinhos. Para isso é preciso lidar com gente ruim e ambiciosa.
Comprar um carro menor não resolverá nada, apenas adiará o problema."

Apesar de ter críticas quanto ao modo como o governo britânico trata o tema, acha que o Reino Unido lidera as iniciativas na Europa.

"Mas todos contamos com o poder do Brasil, que está surgindo como nova potência mundial, para ajudar nessa questão", completa.
(SYLVIA COLOMBO)


SOLAR

AUTOR Ian McEwan
TRADUÇÃO Jorio Dauster
LANÇAMENTO Companhia das Letras
PREÇO R$ 48 (344 págs.)

30 de setembro de 2010


Francisco Perna Filho - Poema

GULA



Almocei,

Ai de mim,

I’m Sorry

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