INSÔNIA


Francisco Perna Filho












A lua,
tão nua
e amarela.
Da rua,
dá para vê-la.
Nela,
enxergo
os cães da insônia
e ali permaneço.
quando se apaga,
amanheço.


http://cacareco.net/wp-content/uploads/2009/02/relogio-butterfly-main.jpg

ESSENCIAL




Francisco Perna Filho











Chamava o elevador

e descia pela escada

(insistindo na própria sorte)

como tomasse vinho

embriagava-se de ônibus

na esperança de não chegar nunca

a lugar algum.

Cansado de enganar o mundo

tropeçou na sorte:

não podendo tirar férias,

tirou a própria vida.



http://sendoidiota.files.wordpress.com/2008/11/boto_do_elevador.jpg


Postado de uma lan house localizada na Calle Florida - Buenos Aires.



UM

Francisco Perna Filho
















Nas tuas formas,
eu me informo do tempo
e deformo o lastro de angústias e desencontros.
Nas tuas formas,
Alinhavo o que pode ser eterno
e gasto as horas dessa eternidade.
Nas tuas formas,
eu contemplo os rios
e rio-me dos inavegáveis trechos.
Nas tuas formas,
Eu suprimo as diferenças
E somos.


http://www.teclasap.com.br/blog/wp-content/uploads/2007/12/namorados_2.jpg

REFÉM

Francisco Perna Filho












A cidade tempestuosa,

a chuva banha.

Aflige o homem encerrado em latas de sardinhas,

cravado nos latões de lixo da cultura globalizada.

Refém de tiros, dispersos como sons,

e órfão da própria origem,

pelos corredores se precipita,

com angústia e zelo pelo que já perdeu.

Uma faca,

uma chaga,

cravadas no seu coração,

reduzem-no ao abjeto da modernidade.

No escuro, tateia o grito do seu irmão operário

preso ao concreto de sua insignificância.

Por certo,

o homem desumaniza-se,

desorienta-se...

é puro grito ancestral,

adormecido nos lábios pétreos da cidade.


Fonte da imagem: http://amadeo.blog.com/repository/171308/1144336.jpg

A PARTE QUE NOS OLHA


Francisco Perna Filho


















Muitos murmuram pelos becos,
passam por pesadas portas,
acelerados como máquinas em desgoverno.
Senti-los,
ouvi-los,
desgastados em ferraduras,
em timbre oco,
avaliando que poderiam fugir,
escapar dos trilhos,
soltarem-se nos campos,
amansando os dias com o vermelho da insônia.

Majestosa fulguração:
homens fracos,
feios,
felizes.
Ingenuamente, felizes.
filtrá-los no abandono,
porque a dor da alegria enviesa o andar,
o andor, em caminhos tão próprios,
tão prósperos, sulcados de rastros,
de raiva,
diluindo esperanças,
comprimindo desejos,
amando o que lhes negam.

São todos deuses,
são todos tolos.
Tão bravos nos seus retrovisores,
esquecidos nas imagens que se perdem,
quanto mais aceleram os astros riem,
os homens choram,
sempre choram, por que, envelhecidos, não terão mais tempo,
e a vontade posta será apenas uma gota de tinta no olhar de cada um.


Foto by Photoshop-7.0 -Goodies Stock Art Images

CRIAÇÃO


Francisco Perna Filho











Vá pela sombra,
vá pelo rio,
vá sozinho,
com os restos do dia,
com gestos infantis,
montado em cavalos marinhos.


Opte pelo sonho,
pelo desenho,
pela figura.
Grite.


Rompa os ruidosos obstáculos,
para sentir o sopro do verde alento das virgens manhãs,
e, coberto de liberdade,
desenhe no próprio corpo
as marginais e desertas ruas da poesia.


Fotografia by Rui Pires - Serra de Montemuro/Maciço Central da Gralheira http://br.olhares.com/momentos_rurais_foto2484349.html

Leia também

Valdivino Braz - Poema

Soldado ucraniano Pavel Kuzin foi morto em Bakhmut  - Fonte BBC Ucrânia em Chamas - Século 21                               Urubus sobrevoam...