Florbela Espanca
Poetisa de linhagem dos grandes torturados da época do Simbolismo (Antônio Nobre, Camilo Pessanha, Sá-Carneiro), Florbela apareceu tardiamente, pois na altura de 1920 chegava ao fim a geração a que se filiara; e só depois de sua morte começou a crítica mais autorizada (Jorge de Sena, José Régio) a valorizá-la como uma das maiores figuras da poesia portuguesa. Em sua obra, relativamente pequena, está a confissão da pungente dor de quem ansiou sempre, mas em vão, pela felicidade.
Antônio Soares Amora
EU
Eu sou a que no mundo anda perdida.
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
sou a crucificada...a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
In. Presença da Literatura Portuguesa: Simbolismo. Antônio Soares Amora. 5ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, s/d, p.99