Murilo Mendes - Poema

 
O Poeta do Futuro


O poeta futuro já se encontra no meio de vós.
Ele nasceu da terra
Preparada por gerações de sensuais e místicos:
Surgiu do universo em crise, do massacre entre irmãos,
Encerrando no espírito épocas superpostas.
O homem sereno, a síntese de todas as raças, o portador da vida
Sai de tanta luta e negação, e do sangue espremido.
O poeta futuro já vive no meio de vós
E não o pressentis.
Ele manifesta o equilíbrio de múltiplas direções
E não permitirá que algo se perca,
Não acabará de apagar o pavio que ainda fumega,
Transformando o aço da sua espada
Em penas que escreverão poemas consoladores.
O poeta futuro apontará o inferno
Aos geradores de guerra,
Aos que asfixiam órfãos e operários.


Imagem retirada da Internet: Murilo Mendes

Murilo Mendes - Poema

Ismael Nery (1900-1934)





















Corrente contínua

Decifremos o código da Criação.

Há um telégrafo surdo
De rosa a rosa, de pássaro a pássaro, de estrela em estrela.

Assaltam-me todos os sonhos
Que existiram desde o princípio do tempo.
Meus braços acolhem migrações de sereias.

Sou um campo onde se decide a sorte dos fantasmas.
Não me podes dispensar, crescimento do mito:
É preciso continuar a trama fluida
Pela qual Lilith, Ariadna, Morgana receberão o alimento.

Vinde beber no meu peito,
Cavaleiros andantes e volantes deste século,
Mulheres sem asilo, corações mutilados, Antígona.
Ó vós todos que temeis a força da matéria,
Comparsas de ópera, musas desprezadas dos poetas,
Nuvens anônimas: procurai minha sede.

In. Metamorfoses

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