Ingeborg Bachmann (Poeta Austríaca) - Poema

 
Sal e Pão


Então o vento manda os trilhos na frente,
seguiremos em vagarosos trens
e povoaremos estas ilhas
Confiança por confiança.

Na mão do meu amigo mais antigo coloco
meu ofício de volta; o homem da chuva governa
agora minha casa sinistra e completa
as linhas no livro da culpa, que eu tracei
desde que me tornei cada vez mais estranho.

Você, com a batina branco-febril,
recupera os desterrados e retira
da polpa dos cactos um espinho
o símbolo da impotência,
para o qual nos curvamos sem querer.

Sabemos,
que permaneceremos prisioneiros do continente
e à mercê de novo de suas injúrias,
e a maré da verdade
não se tornará ainda mais rara.

Dorme então nos rochedos
do crânio pouco iluminado,
a garra segura na garra
na escura pedra, e curados
estão os estigmas no violeta do vulcão.

Da grande tempestade de luzes
nenhuma alcançou a vida.

Assim pego do sal,
quando a maré nos sobe,
e regresso
e o coloco no umbral
e entro em casa.

Dividimos um pão com a chuva,
um pão, uma culpa e uma casa.


Tradução de Viviane de Santana Paulo

Fonte: Agulha
Imagem retirada da Internet: trilhos 

Akiko Yosano (1878-1942) - Poema




O destino que Deus me deu
ecoa em minha vida
meu mundo se acaba
escute o som
do machado destroçando o koto

Não pensas em tais coisas?
não me desejas em sonhos?
ó jovem
meus rubros lábios
não queimam em teu coração?

Quando um rapaz entra
pelo portão da perfumaria
numa noite de luar na primavera
na Kyoto de baixo
penso: que meigo!

Para punir os homens
por seus numerosos pecados
de pele pura
e cabelos pretos e longos
eu fui feita

Tradução: Diogo Kaupatez.

In. PAISAGEM URBANA E POESIA JAPONESA CONTEMPORÂNEA, antologia de poesia japonesa, organizada por Raquel Abi-Sâmara, Sadami Suzuki e Leith Morton)
Fonte: Jornal MEMAI

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