JÁDSON BARROS NEVES VENCE O PRÊMIO NACIONAL DE CONTOS

XII Concurso Nacional de Contos seleciona 12 contos 
21/10/2011 



Ganhador é do Tocantins e segundo lugar é araraquarense


Comissão julgadora do concurso foi formada por: José Pedro Antunes, José Pedro Renzi, e Hilário Antônio Amaral
 
A Prefeitura de Araraquara, por meio da Secretaria Municipal da Cultura e Fundart, divulgou no último dia 20, o resultado do XII Concurso Nacional de Contos – Prêmio Ignácio de Loyola Brandão, realizado pela Biblioteca Pública Municipal Mario de Andrade.
 
O corpo de jurados que realizou o trabalho de seleção dos premiados foi composto pelos Professores Doutores: José Pedro Antunes e  Hilário Antonio Amaral (ambos da Unesp - Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara), e também por José Pedro Renzi, representante do Conselho Municipal de Cultura (Literatura).
 
De acordo com o regulamento do concurso seriam contemplados dez contos, porém os jurados decidiram acrescentar outros dois contos, resultando assim em 12 contos que serão publicados pela Editora da UNESP, através da Faculdade de Ciências e Letras – Campus de Araraquara, com uma tiragem de 500 exemplares.
 
O primeiro colocado foi Jádson Barros Neves, de Guaraí, no Tocantins, com o conto “Setembro Bravo”. Além da primeira colocação, Jádson também assegurou duas menções honrosas e a publicação dos contos “Caso de Dante” e “A Toalha” no livro a ser publicado.
 
Araraquara também está representada no “pódium”, com o segundo lugar de Danilo Brandão de Lima, autor do conto “Noite Esmeralda”. Já a terceira colocação ficou com Éder Rodrigues da Silva, de Pouso Alegre, em Minas Gerais, com a obra “Mensageiro da Chuva”.
 
Os três primeiros colocados recebem os seguintes prêmios: R$1.000,00 (1º colocado), R$600,00 (2º colocado) e R$400,00 (3º colocado). Do 4º ao 12º colocado, os autores recebem Menção Honrosa. Cada autor receberá dez exemplares do livro.
 
Além de Jádson, também recebem as menções honrosas: Claúdia Albers Avóglio – “Dois Valetes, Uma Dama” (Pirassununga – SP), Alexandre de Almeida Nobre - “Fazenda Nova América” (Ribeirão Preto – SP), Lucas Henrique da Nóbrega Cassiano – “Acontece com as Melhores Pessoas” (Americana – SP), Pietro Bordini De Santis – “Carlos Sullermann” (São Carlos – SP), José Carlos da Silva – “Edilene chegou...” (Mauá – SP), Alexandre Bonafim Felizardo – “Gervásio” (Goiânia – GO), e Paulo César Paschoalini – “Escultores de Sombras” (Piracicaba – SP).
 
Nesta edição foram inscritos 568 trabalhos. Diversas cidades participaram das inscrições, como: Americana, Araraquara, Atibaia, Bebedouro, Campinas, Gavião Peixoto, Itararé, Maracaí, Piracicaba, Presidente Prudente, Salto, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São José do Rio Preto, São Paulo, Sertãozinho – de SP – além de Campo Grande (MS), Goiânia (GO), João Pessoa (PA), Paracatu (MG), Porto Velho (AC), Rio de Janeiro (RJ), São Leopoldo (RS), Taguatinga (DF) – entre várias outras. Também houve trabalhos de brasileiros que residem no Japão e na França.
 
Lançado em 1977, o Concurso Nacional de Contos de Araraquara vem atingindo seu objetivo de incentivo à literatura brasileira e despertando o interesse dos escritores.
 
Confira os premiados no concurso:
 
Vencedores do Concurso de Contos 2011
 
1º colocado – Jádson Barros Neves – “Setembro Bravo” (Guaraí – TO)
2º colocado – Danilo Brandão de Lima – “Noite Esmeralda” (Araraquara – SP)
3º colocado – Éder Rodrigues da Silva - “Mensageiro da Chuva” (Pouso Alegre – MG)
 
Menção Honrosa
 
- Alexandre de Almeida Nobre - “Fazenda Nova América” (Ribeirão Preto – SP)
- Alexandre Bonafim Felizardo – “Gervásio” (Goiânia – GO)
- Claúdia Albers Avóglio – “Dois Valetes, Uma Dama” (Pirassununga – SP),
- Jádson Barros Neves – “Caso de Dante” e “A Toalha” (Guaraí – TO)
- José Carlos da Silva – “Edilene chegou...” (Mauá – SP)
- Lucas Henrique da Nóbrega Cassiano – “Acontece com as Melhores Pessoas” (Americana – SP)
- Paulo César Paschoalini – “Escultores de Sombras” (Piracicaba – SP)
- Pietro Bordini De Santis – “Carlos Sullermann” (São Carlos – SP)
 

Marília Núbile - Poema


Juntos


Já vivemos juntos,
Aqui acolá,
Nossas vidas oscilam entre os extremos,
Entre as brechas do desnível, do possível reencontro...

Já vivemos juntos
No sigilo sombrio do trabalho,
Na exaltação da alcova,
Já vivemos juntos,
Nos limites do pleno e do vazio,
Na saudade e no tédio.

E agora vou e não vou
E que me deixo ficar.
E assim aos poucos vou me dividindo.
E tudo que amei, ficou amado.


In. Verso de Marília. Goiânia: Editora da UCG, 2009.
Imagem retirada da Internet: só.

Manoel Bueno (Nequito) - Poema



O húmus há de ficar na planta.
A planta (sua versão na flor)
ainda fica no voo e no ovo da ave.
Conforme a fome ou o (nem) tanto de pasto,
já havia intumescido o úbere farto,
o que deixou murchas as ancas
de certa "vaca de divinas tetas"
vertido todo o amor do leite derramado
dos cantos de tua boca infante
vida a fora, ânsia a dentro.

Penando embora,  vive a ave no homem
ainda que no átrio da casa:
o pássaro, preso - os ouvidos só no quintal
o homem , cego - os olhos apenas no canto.
Livre, no encanto, é a ave:
não deve um ninho só que lhe fizessem;
a nenhuma voz desafinou, que não se comovesse;
não fez de ninguém escravo, a quem não servisse.

Por que agora deve justo o homem
- já leva um cravo no peito
um espinho na planta do pé
e suporta todo o transe
da pedra no caminho
no sentimento do mundo
ser apenas aquele vagabundo
imolado na cena final da solidão
Calado seu grito de dor
em tudo o que se perde
no nada que se dissolve?
logo ele, prisioneiro da vida
em seus pesares,
mas sempre esse companheiro
e sentinela que vigia
lembranças e profecia?

In. Candeia de canto. Goiânia: Ed. da UFG, 1996.

Fernando Pessoa - Alberto Caeiro - Poema


Foto by Ricardo Monteiro


Quando Eu


Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

Abílio Pacheco - Crônica


Abilio Pacheco
God saves the little Elza



Ano passado disse que todo ano iria escrever sobre um ex-professor por ocasião do dia 15 de Outubro. A crônica sobre o Mestre Honorato trouxe-me bons e inesperados frutos. Além de algumas surpresas e aprendizados. A literatura sempre foi uma forma de levar as pessoas a tantos e tão diferentes lugares; com a internet isso tomou outra dimensão, incontrolável. Curioso é que a crônica sobre meu professor de elétrica é a mais acessada neste meu site e é a que mais resultou em comentários fora da net. Eu que sempre escrevi literatura ficcional, pouco me havia preparado para a literatura sobre pessoas vivas mesmo. Como é o caso da crônica. Talvez por isso fique pouco à vontade para escrever sobre a outra professora que comento en passant no texto do ano passado e opte por escrever sobre uma professorinha da minha querida Coroatá, interior do Maranhão.

A escolha também tem outro motivo. Ao dizer na crônica do ano passado que dois professores logo saltaram a minha lembrança, não me dava conta que dias depois muitos outros iriam emergir. Inclusive às queixas. Não, leitor curioso, nenhum me pediu ou cobrou crônica, fui eu mesmo que terminei por colocá-los vivos e falantes na minha memória. Afinal, pus-me no lugar deles. Como eu iria me sentir se preterido… A profissão tem lá seu quê de afetivo, afeiçuoso. Daí, zelos e gelosias. Por isso, reporto-me a minha longínqua e presente Coroatá, onde tive apenas dois professores (no rigor termo, no estrito). Um deles dava-me aulas num antigo chiqueiro de porcos e só me recordo das palmatórias e do nome que hoje uso para lembrar dele: Juvêncio. A outra era a tia Elza, a pequena tia Elza.

Não. Ela não professora de inglês. Era alfabetizadora. Destas muitas que tem pelo Brasil desbravando matagais, abrindo veredas, tangendo pedras e seguindo em caminhos hostis que são as cabecinhas tolas desses cidadãos pueris. Vá lá que ensinar o gênero textual (essa coisa aí bonita da Linguística) seja algo deveras útil para o aluno no seio da via social. Mas, dá cá esta palha, ensinar a juntar consoantes e vogais para fazer sílabas; rabisco sonoro com rabisco sonoro igual a outro rabisco sonoro – ou debuxo ruidoso… Isso, mano velho, quem vai passando pela estrada asfaltada e chã parece que esquece o quanto teve de gente abrindo picada, amansando pedras e orientando asfaltos. Cada pedágio que pagamos pelas Dutras da vida deveriam reservar bons quilhões para quem foi de fazer juntar o “bê” com o “a”.

Se bem vou conseguir não sei, mas a homenagem a pequena tia Elza pode ser estendida a tantas outras professorinhas esquecidas neste pindorama que vai já à sétima economia mundial. O país se construiu gigante por ação política como um prédio de muitos andares. Cada IDH, belo como uma janela barroca. Cada fator social como uma voluta no alto de uma coluna. Nem vou falar dos pavimentos para que a alegoria não seja toda explicadinha. Mas, sustentando este “belo impávido colosso”, está coisa que ninguém vê: o alicerce. Nem falo do alicerce de hoje, cuja fachada só veremos daqui a pelo menos uma década. Mas sim das professorinhas primárias como a tia Elza de cerca de 30 anos atrás.

Há 30 anos – afirmo por conta e risco – , as professoras primárias ganhavam menos um salário mínimo, não existia FNDE, não recebiam em dia, tinham malmente o curso ginasial de Normalista (muitas nem ist0). Curso superior de qualquer coisa, noções de linguística para alfabetização, saber o que era dislalia ou dislexia, nem sonhando. Parâmetros Curriculares, quê? Livros didáticos ou mesmo de história… a tia Elza usava era a cartilha do MOBRAL para me ensinar. Imagino meu avô dizendo que a cartilha era dela, da professora. Só não faltavam paciência e boa vontade na sua casa amarela de pé direito baixo, calha de zindo num dos lados do telhado e uma ou outra telha transparente. Ô sôdade boa de sua casinha de porta e janela (ou de janela e garagem) na rua do Sol, pertinho da minha travessa da Mangueira.

Não era uma escola, não. Ela dava aulas em casa mesmo. Nada de reforço ou complemento. Minha escola era sua copa. Sem quadro negro ou campainha. Nada de turma, apenas um ou outro colega. Era quando havia algum menino mais turrão que ela mais se mostrava paciente. Uma vez deixou-nos, eu e um super almado, com seu filho. O rapaz tinha menos de 25 anos e estava de castigo na copa e cozinha, pois tinha que tomar uns litros de água (para fazer lavagem estomacal). Ela nos recomendou que não bebêssemos das garrafas dele, pois era medido (se a memória não me falha ou não me excede). Meu colega inventou de atazanar para beber da água do secretário de nossa escolinha. Como o filho da professora não deu, meu colega enfiou-lhe o lápis no braço. O lápis dele tinha sempre uma ponta longa feita a facão. Enfiou! Não em 90 graus como se cravasse faca, mas na tangente como se enfiasse injeção. O buraco no braço não bastou; ficou encravado um pedaço do grafite. Vendo o mal feito, ele sentou-se, cruzou os braços fazendo bico e assim congelando até quando a tia Elza chegou.

Seu filho foi muito cônscio. Outro teria rodado mão no pé de lata do encapetado. Quando a mãe chegou, apenas mostrou o braço e ela entendeu. Chamou-nos, eu e meu colega, para perto; para ver o machucado. Premiu para sair a ponta; fazia mais para nos provocar que para extrair o grafite. Com não sei que ternura foi explicando o que havíamos feito e se ele ficar sem o braço, como vai ser? Meu colega olhava empedernido para o vazio escondido atrás do braço ferido. Ela apertava o machucado, falava e falava e eu ia ficando “atulermado” (hoje devem dizer “constrangido”). Quando tirou o corpo estranho do braço do filho e suspendeu o grafite sujo de sangue pinçado entre os dedos, falou daquele objeto como uma coisa muito assombrosa, como algo que poderia causar coisas pavorosas. Palavra não lembro nenhuma, mas a essência e o tom da voz… Talvez tenha passado dias lembrando do incidente sempre ao ver um lápis de ponta mais alongada. Certo é que aquela candura imprimiu em mim melhor resultado que uma palmada bem dada, melhor que as palmatoradas que eu levava no chiqueiro-escola do Sr. Juvêncio.

Depois que saí de Coroatá ainda fui à casa dela uma ou outra vez. Nenhuma vez a revi. Ela sempre estava viajando para São Luís, sempre consulta ou tratamento. Já faz tempo que faleceu, uns dez ou quinze anos. Mas ela está cá neste aprendiz de professor. Deve estar comigo (metafisicamente – matéria mística) quando preciso ser mais parcimonioso com “minhas crianças”, quando o que preciso ensinar não é a lição, não é o conteúdo, mas algo de proveitoso para vida, quando (como ouvi um professor de português no CEFETPA dizer aos seus alunos) “é preciso forjar nos alunos, gente”, ou, sendo menos grosseiro, quando é necessário ser mais educador que professor e conduzir os alunos para um bom exercício de humanidade.

Belém, 14 de outubro  de 2011
Abilio Pacheco

Professor universitário, escritor, revisor de textos e organizador de antologias. Três livros publicados. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (com sede em Marabá), integra o conselho de redacção da Revista EisFluências, de Portugal, é Cônsul dos Poetas Del Mundo para o Estado do Pará e é Embaixador da Paz pelo Cercle Universal des Ambassadeurs de la Pax (Genebra-Suiça).

Castro Alves - Poema



Canção do Boêmio



Que noite fria! Na deserta rua
Tremem de medo os lampiões sombrios.
Densa garoa faz fumar a lua,
Ladram de tédio vinte cães vadios.


Nini formosa! por que assim fugiste?
Embalde o tempo à tua espera conto.
Não vês, não vós?... Meu coração é triste
Como um calouro quando leva ponto.
A passos largos eu percorro a sala
Fumo um cigarro, que filei na escola...


Tudo no quarto de Nini me fala
Embalde fumo... tudo aqui me amola.
Diz-me o relógio cinicando a um canto
"Onde está ela que não veio ainda?"
Diz-me a poltrona "por que tardas tanto?
Quero aquecer-te rapariga linda."


Em vão a luz da crepitante vela
De Hugo clarcia uma canção ardente;
Tens um idílio — em tua fronte bela...
Um ditirambo— no teu seio quente...
Pego o compêndio... inspiração sublime
P'ra adormecer... inquietações tamanhas...


Violei à noite o domicílio, ó crime!
Onde dormia uma nação... de aranhas...
Morrer de frio quando o peito é brasa...
Quando a paixão no coração se aninha!?...
Vós todos, todos, que dormis em casa,


Dizei se há dor, que se compare à minha!...
Nini! o horror deste sofrer pungente
Só teu sorriso neste mundo acalma...
Vem aquecer-me em teu olhar ardente...
Nini! tu és o cache-nez dest'alma.
Deus do Boêmio!... São da mesma raça


As andorinhas e o meu anjo louro...
Fogem de mim se a primavera passa
Se já nos campos não há flores de ouro...
E tu fugiste, pressentindo o inverno.Mensal inverno do viver boêmio...
Sem te lembrar que por um riso terno


Mesmo eu tomara a primavera a prêmio..
No entanto ainda do Xerez fogoso
Duas garrafas guardo ali... Que minas!
Além de um lado o violão saudoso
Guarda no seio inspirações divinas...
Se tu viesses... de meus lábios tristes


Rompera o canto... Que esperança inglória...
Ela esqueceu o que jurar lhe vistes
Ó Paulicéia, ó Ponte-grande' ó Glórial...
Batem!... que vejo! Ei-la afinal comigo...
Foram-se as trevas... fabricou-se a luz...
Nini! pequei... dá-me exemplar castigo!


Sejam teus braços... do martírio a cruz!...


Imagem retirada da  Internet: noite fria

Gregório de Matos - Poema



1º SONETO A MARIA DOS POVOS (319)


Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia,
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria,
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

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