Dora Ferreira da Silva - Poema


Murmúrios



Pousa num ramo um sopro de agonia
dos que morrem (sem saber)
em nosso coração.
Suspira a noite no vento vadio.
Amados mortos: tentais dizer
o quanto amais ainda?



In. Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet: sopro

Francisco Perna Filho - Poema

RESOLUÇÃO



Reso é,

Reso foi,

Resos são.

A discordância verbal é regência

A discordância semântica:

Resolução.

Francisco Perna Filho - Poema

TRANSEUNTE



Transe antes,

transe simples,

transe depois.

Transamazônica

Dora Ferreira da Silva - Poema



Habitas meu coração:




Habitas meu coração: barbas de rei assírio
olhar de extensões alheias
a tempo e medida.
Tua voz tem asas de falcão e pousa
nas torres mais altas do meu ser
onde jamais me aventurei. É minha a tua solidão.
Sirvo-te em silêncio e às vezes
como a uma criança me apertas em teu peito:
acaricio então tua face estranho rei.
Outras vezes ouço passos ecoando
no enlace das colunas em seteiras escadas. Se grito
teu nome - és mil ressonâncias e seu eco em mim.



Fonte: Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet:falcão peregrino

Dora Ferreira da Silva - Poema


Boneca



A boneca de feltro
parece assustada com o próximo milênio.
Quem a aninhará nos braços
com seus olhos de medo e retrós?

O signo da boneca é frágil
mais frágil que o de pássaro.
Confia. Assim passiva
o vento brincará contigo
franzirá teu avental
dirá coisas que entendes
desde a aurora das coisas:
foste um caroço de manga
uma forma de nuvem
ou um galho com braços
de ameixeira no quintal.

Não temas. Solta o
corpo de feltro. Assim.
Para ser embalada nos braços
da menina que houver.



In. Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet: Blog do Guito

Francisco Perna Filho - Poema

PARAPEITO



Para mim,

par ti,

para raio,

para bunda,

para o ano que vem.

Dora Ferreira da Silva - Poema



Valsas de Esquina de Mignone



Só um pássaro
e seu peso de orvalho tocando
o chão como se foram teclas.
Passa onde a graça
ilumina a cidade de ferro
subitamente atenta a essa beleza.

Nos jardins teimam rosas
delicadamente.
Violetas africanas
salpicam de ouro
muros escuros
e as princesas purpúreas
espiam dos balcões verdes
nas paredes florescidas:
dançam pétalas
dança a vida
nos jardins contentes
não termina a partitura
que se repete
sempre.


In. Jornal de Poesia
Imagem retirada da Internet: orvalho

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