Adélia Prado - Poema




Adélia Prado








Entrevista


Um homem do mundo me perguntou:
o que você pensa do sexo?
Uma das maravilhas da criação eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara:
o destino do homem é a santidade.
A mulher que me perguntou cheia de ódio:
você raspa lá? Perguntou sorrindo,
achando que assim melhor me assassinava.
Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é o amor que vem de Deus,
não porque uso luva ou navalha.
Que pode contra ele o excremento?
Mesmo a rosa, que pode a seu favor?
Se "cobre a multidão dos pecados e é benigno,
como a morte duro, como o inferno tenaz",
descansa em teu amor, que bem estás.


Imagem retirada da Internet - sexo.

Alexandre Acampora - Poema

ALEXANDRE ACAMPORA - Escritor, documentarista e fotógrafo. Carioca do Rio Comprido. Morou no Estado do Tocantins por quinze anos, onde foi secretário de cultura da capital. É membro da Academia de Letras de Palmas, foi eleito para o cargo de conselheiro de cultura da cidade. Escreveu no memorável Pasquim, editou jornais alternativos. Escreveu dois livros paradidáticos - Introdução à Filosofia da Educação e História da Educação Infantil, editados no Rio de Janeiro e no Tocantins. Resgatou, reescreveu e produziu a edição de dois livros de Lysias Rodrigues - O Rio dos Tocantins e Roteiro do Tocantins. É autor do livro de poemas Espuma Sagrada do Tempo com duas edições, em Palmas. Escreveu e editou o romance minimalista A Princesinha Inca, o livro de artigos Escritos de Jornal. Foi cronista dominical da Folha Popular, editor de cultura no jornal Tribuna do Tocantins, articulista dos jornais Primeira Página e Cinco de Outubro. É autor de roteiros e diretor de documentários. Recebeu o prêmio de fotografia do Salão de Fotografias do Parque Nacional de Itatiaia. Pai de Selena, Thiago, Bianca e Nara, retornou ao Rio em setembro de 2006.


PALMAS


Acaricio
O parapente
De palmeiras imperiais
Na avenida JK.
Excelências imperiais da natureza
No cio das eras
No cio da eternidade.

Acaricio os ramos
Os cabelos das palmas
Ainda enquanto alcanço
Ainda enquanto posso
Ainda enquanto derramam
Suas ramas
Seus louros
Ao alcance de minhas mãos.

O cio das eras
Indica inatingíveis alturas
Cabelos ao vento
Espanando os céus.

Caminho
Por entre palmeiras meninas
Nessa Palmas
República da floresta.

Araras
Aves raras
Pousarão no cume
Das palmeiras imperiais
Da avenida JK.

Acaricio
Da eternidade o cio
Vendo através dos olhos de meus filhos
O futuro que virá.
Beijo com lágrimas felizes
O cio do porvir.

Com carinho
Abraço o feixe de folhas verdes
Palmas imperiais de meus sentidos
Hoje
Essa Palmas
Tenho nas mãos à altura
Ainda enquanto é tempo
O tempo infante dessas folhas.


Imagem retirada da Internet - Av. JK

Ana Cristina Cesar - Poema
















ANÔNIMO

Sou linda; quando no cinema você roça
o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais
quem desejo, que me assa viva, comendo
coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura
inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no
cinema é escuro e a tela não importa, só o lado,
o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora
deste sabe onde me encontro até de olhos
fechados; falo pouco; encontre; esquina de
Concentração com Difusão, lado esquerdo de
quem vem, jornal na mão, discreta.


In.A teus pés, Editora Brasiliense, 1993 – S.Paulo, Brasil
Imagem retirada da Internet: sensual

Chico Buarque - Poema
















O meu amor

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz


Foto retirada da Internet: seios.

Renata Pallottini - Poema





















Cerejas, meu amor

Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...


Imagem retirada da Internet: cereja.

Pablo Neruda - Poema












Os teus pés


Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.


Imagem: Pés.

Francisco Perna Filho - Poema




Para Sinésio Dioliveira





Libélula


Libélula

a tua língua

como pássaro em arregalado voo

para roubar o silêncio das flores.

De onde vens,

não importa.

Nada importa!

Nem mesmo o canto que não trazes.

O que importa em ti é o ócio prematuro dos insetos,

quando esticas o verde das folhas tenras

e te misturas à secura das árvores e ao cheiro dos cogumelos selvagens.

Libélula

a tua língua

no silencioso voo,

na nostalgia da intestina selva,

para seduzir o solitário fotógrafo

que te presenteia com desmesurados flashes.

Palmas, 25/01/2010


Foto by Sinésio Dioliveira

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