Chico Buarque - Poema
















O meu amor

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz


Foto retirada da Internet: seios.

Renata Pallottini - Poema





















Cerejas, meu amor

Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...


Imagem retirada da Internet: cereja.

Pablo Neruda - Poema












Os teus pés


Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.


Imagem: Pés.

Francisco Perna Filho - Poema




Para Sinésio Dioliveira





Libélula


Libélula

a tua língua

como pássaro em arregalado voo

para roubar o silêncio das flores.

De onde vens,

não importa.

Nada importa!

Nem mesmo o canto que não trazes.

O que importa em ti é o ócio prematuro dos insetos,

quando esticas o verde das folhas tenras

e te misturas à secura das árvores e ao cheiro dos cogumelos selvagens.

Libélula

a tua língua

no silencioso voo,

na nostalgia da intestina selva,

para seduzir o solitário fotógrafo

que te presenteia com desmesurados flashes.

Palmas, 25/01/2010


Foto by Sinésio Dioliveira

Safo - Poema




















A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro ... eu tremo.


Fonte: cseabra.utopia - In.Clássicos do erotismo, vol. 2
Imagem: Erótico - Carlos Azulay - Pintor e escultor argentino, nascido em 1955 em Buenos Aires.

VISÕES DA CIDADE










I


A cidade é vista sob a neblina difusa.

Há um desejo de vê-la cada vez mais de perto.

ela é vária e diluída ensina

um olhar de milhas

que não se perde em mim.

A cidade é dura,

é leve

é ilha.

Somente em mim ela se completa.

Acordada, sente o olhar humano,

e dormindo, afaga os sonhos mais diversos.

Há um querer de ruas,

de praças,

de espaços e vazios.


Fonte da imagem:

http://mw2.google.com/mw-anoramio/photos/medium/2551780.jpg

Francisco Perna Filho - Poema












CONCERTO PARA VIOLINO



O projétil desliza em linha reta,

não há tempo nem espaço.

A lógica da bala é estúpida,

rompe o elo da existência.

Poderia ser assim,

mas o maestro russo Serguei Diatchenko, 64,

preferiu a corda, a viga, o impulso.

Há tempos perseguia o som original,

usara de todos os recursos e instrumentos,

percorrera rios e insônias

para quedar ali como uma fraude.

Não fosse a cobiça,

a pecúnia,

os sons seriam outros,

o ritmo seria outro,

o modo e o compasso diferentes.

Mas não,

Roma era grandiosa,

e ele sonhara com instrumentos perfeitos:

Messias;

Viotti,

Khevenhüller,

Paganini,

Lipin´ski

Davidov.

Fora além do seu sonho,

e, por um instante, tornara-se o deus Stradivari.

Soubera-se famoso ao reger a própria sorte.

No momento em que pendia,

não se dera conta do som que perseguia.



* O maestro russo Serguei Diatchenko, de 64 anos e aluno do genial regente austríaco Herbert von Karajan, se suicidou em sua casa em Roma, onde permanecia detido pela suposta venda a seus alunos de violinos falsos por preços elevados(O Estadão - sábado, 1 de novembro de 2008, 12:13).




In.Visgo Ilusório. Francisco Perna Filho. Goiânia: PucGoiás/Kelps (Prosa & Verso - Prefeitura de Goiânia). 2009,p.54.

Fonte da imagem:Stradivarius

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