Renata Pallottini - Poema
Pablo Neruda - Poema
Francisco Perna Filho - Poema
Para Sinésio Dioliveira
Libélula
Libélula
a tua língua
como pássaro em arregalado voo
para roubar o silêncio das flores.
De onde vens,
não importa.
Nada importa!
Nem mesmo o canto que não trazes.
O que importa em ti é o ócio prematuro dos insetos,
quando esticas o verde das folhas tenras
e te misturas à secura das árvores e ao cheiro dos cogumelos selvagens.
Libélula
a tua língua
no silencioso voo,
na nostalgia da intestina selva,
para seduzir o solitário fotógrafo
que te presenteia com desmesurados flashes.
Palmas, 25/01/2010
Foto by Sinésio Dioliveira
Safo - Poema
VISÕES DA CIDADE
I
A cidade é vista sob a neblina difusa.
Há um desejo de vê-la cada vez mais de perto.
ela é vária e diluída ensina
um olhar de milhas
que não se perde em mim.
A cidade é dura,
é leve
é ilha.
Somente em mim ela se completa.
Acordada, sente o olhar humano,
e dormindo, afaga os sonhos mais diversos.
Há um querer de ruas,
de praças,
de espaços e vazios.
Francisco Perna Filho - Poema
CONCERTO PARA VIOLINO
O projétil desliza em linha reta,
não há tempo nem espaço.
A lógica da bala é estúpida,
rompe o elo da existência.
Poderia ser assim,
mas o maestro russo Serguei Diatchenko, 64,
preferiu a corda, a viga, o impulso.
Há tempos perseguia o som original,
usara de todos os recursos e instrumentos,
percorrera rios e insônias
para quedar ali como uma fraude.
Não fosse a cobiça,
a pecúnia,
os sons seriam outros,
o ritmo seria outro,
o modo e o compasso diferentes.
Mas não,
Roma era grandiosa,
e ele sonhara com instrumentos perfeitos:
Messias;
Viotti,
Khevenhüller,
Paganini,
Lipin´ski
Davidov.
Fora além do seu sonho,
e, por um instante, tornara-se o deus Stradivari.
Soubera-se famoso ao reger a própria sorte.
No momento em que pendia,
não se dera conta do som que perseguia.
* O maestro russo Serguei Diatchenko, de 64 anos e aluno do genial regente austríaco Herbert von Karajan, se suicidou em sua casa em Roma, onde permanecia detido pela suposta venda a seus alunos de violinos falsos por preços elevados(O Estadão - sábado, 1 de novembro de 2008, 12:13).
In.Visgo Ilusório. Francisco Perna Filho. Goiânia: PucGoiás/Kelps (Prosa & Verso - Prefeitura de Goiânia). 2009,p.54.
SONETO EM DESALINHO
Francisco Perna Filho
Para onde me levará este olhar,
quando ainda não compreendo os caminhos,
com um amargo da palavra que me invade
e a luz rouca dos teus olhos que me fitam.
No teu silêncio principio a minha angústia,
longe, vaga, e tão presente me assola,
de dia, brinco, rio, falo, cantarolo,
de noite, cego, tateio sem destino.
Houvesse uma bússola para consolo,
nas batidas lentas dessa nossa vida,
eu seria um outro homem em escalada,
Mas a vida sonora é silêncio,
e a luz que brilha é o caminho que me cega,
quedo em canto, em pranto, em incerteza, em nada.
Palmas, 30/06/2009
Imagem: Lucien Freudhttp://media.photobucket.com/image/lucien%20freud/drawpartner/freudbyauerbach.jpg
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