Renata Pallottini - Poema





















Cerejas, meu amor

Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...


Imagem retirada da Internet: cereja.

Pablo Neruda - Poema












Os teus pés


Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.


Imagem: Pés.

Francisco Perna Filho - Poema




Para Sinésio Dioliveira





Libélula


Libélula

a tua língua

como pássaro em arregalado voo

para roubar o silêncio das flores.

De onde vens,

não importa.

Nada importa!

Nem mesmo o canto que não trazes.

O que importa em ti é o ócio prematuro dos insetos,

quando esticas o verde das folhas tenras

e te misturas à secura das árvores e ao cheiro dos cogumelos selvagens.

Libélula

a tua língua

no silencioso voo,

na nostalgia da intestina selva,

para seduzir o solitário fotógrafo

que te presenteia com desmesurados flashes.

Palmas, 25/01/2010


Foto by Sinésio Dioliveira

Safo - Poema




















A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro ... eu tremo.


Fonte: cseabra.utopia - In.Clássicos do erotismo, vol. 2
Imagem: Erótico - Carlos Azulay - Pintor e escultor argentino, nascido em 1955 em Buenos Aires.

VISÕES DA CIDADE










I


A cidade é vista sob a neblina difusa.

Há um desejo de vê-la cada vez mais de perto.

ela é vária e diluída ensina

um olhar de milhas

que não se perde em mim.

A cidade é dura,

é leve

é ilha.

Somente em mim ela se completa.

Acordada, sente o olhar humano,

e dormindo, afaga os sonhos mais diversos.

Há um querer de ruas,

de praças,

de espaços e vazios.


Fonte da imagem:

http://mw2.google.com/mw-anoramio/photos/medium/2551780.jpg

Francisco Perna Filho - Poema












CONCERTO PARA VIOLINO



O projétil desliza em linha reta,

não há tempo nem espaço.

A lógica da bala é estúpida,

rompe o elo da existência.

Poderia ser assim,

mas o maestro russo Serguei Diatchenko, 64,

preferiu a corda, a viga, o impulso.

Há tempos perseguia o som original,

usara de todos os recursos e instrumentos,

percorrera rios e insônias

para quedar ali como uma fraude.

Não fosse a cobiça,

a pecúnia,

os sons seriam outros,

o ritmo seria outro,

o modo e o compasso diferentes.

Mas não,

Roma era grandiosa,

e ele sonhara com instrumentos perfeitos:

Messias;

Viotti,

Khevenhüller,

Paganini,

Lipin´ski

Davidov.

Fora além do seu sonho,

e, por um instante, tornara-se o deus Stradivari.

Soubera-se famoso ao reger a própria sorte.

No momento em que pendia,

não se dera conta do som que perseguia.



* O maestro russo Serguei Diatchenko, de 64 anos e aluno do genial regente austríaco Herbert von Karajan, se suicidou em sua casa em Roma, onde permanecia detido pela suposta venda a seus alunos de violinos falsos por preços elevados(O Estadão - sábado, 1 de novembro de 2008, 12:13).




In.Visgo Ilusório. Francisco Perna Filho. Goiânia: PucGoiás/Kelps (Prosa & Verso - Prefeitura de Goiânia). 2009,p.54.

Fonte da imagem:Stradivarius

SONETO EM DESALINHO





Francisco Perna Filho









Para onde me levará este olhar,

quando ainda não compreendo os caminhos,

com um amargo da palavra que me invade

e a luz rouca dos teus olhos que me fitam.


No teu silêncio principio a minha angústia,

longe, vaga, e tão presente me assola,

de dia, brinco, rio, falo, cantarolo,

de noite, cego, tateio sem destino.


Houvesse uma bússola para consolo,

nas batidas lentas dessa nossa vida,

eu seria um outro homem em escalada,


Mas a vida sonora é silêncio,

e a luz que brilha é o caminho que me cega,

quedo em canto, em pranto, em incerteza, em nada.



Palmas, 30/06/2009


Imagem: Lucien Freudhttp://media.photobucket.com/image/lucien%20freud/drawpartner/freudbyauerbach.jpg

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